sexta-feira, 27 de novembro de 2015

As sementes, os herbicidas e as multinacionais

Conversa entre mim e o meu pai há umas semanas:

Pai: Tenho de queimar ali umas ervas.
Eu: Como o quê?
Pai: Com Roundup.
Eu: Tu sabes que o Roundup é cancerígeno? (é sempre um bom argumento)
Pai: É o que dizem...
Eu: Não é o que dizem, é a realidade, está provado.

Podem ver a seguinte notícia Califórnia classifica herbicida Roundup como cancerígeno.

O meu pai não aplica muito Roundup até porque é demasiado preguiçoso para andar sempre a matar ervas daninhas, mas volta e meia lá põe. E claro não põe na altura que temos plantações, mas que restos deixará o Roundup e outros produtos idênticos no solo? E nas culturas seguintes? Não sei.

Se virmos no site da Roundup Jardins na parte das perguntas e respostas, percebemos logo que tantos cuidados só podem significar que não podemos ter grande confiança no produto. Mas quando falamos de pessoas individuais que utilizam estes produtos, estamos a falar de pequenas utilizações que em princípio não nos trarão grandes problemas. Mas não são apenas os indivíduos comuns que os utilizam. Estes produtos são amplamente utilizados nas grandes explorações agrícolas mundiais e aí o caso piora bastante.

O Roundup pertence à Monsanto Company, uma empresa multinacional de agricultura e biotecnologia. A Monsanto é a líder mundial na produção de sementes geneticamente modificadas. A controvérsia sobre esta empresa é enorme.

Por um lado, os produtos geneticamente modificados da Monsanto têm contribuído grandemente para a destruição de vários ecossistemas. Por outro lado, produtos como o herbicida roundup têm sido a causa de várias doenças em agricultores e outras pessoas que têm contacto com o produto.

A juntar a isto, existe ainda a questão das sementes e da polícia genética:

"Agricultores que compram sementes transgênicas da Monsanto são proibidos de guardar parte da colheita para replantio dessas sementes. Para garantir que isso não ocorra, a empresa mantém uma polícia genética, que investiga denúncias de "casos suspeitos", inspecionando fazendas (com ou sem permissão dos proprietários), para coletar amostras de plantas e sementes. No Canadá e nos Estados Unidos, mesmo os agricultores que jamais compraram sementes da Monsanto têm sido investigados por essa "polícia genética", e vários desses agricultores foram processados, já que a "polícia genética" da Monsanto consegue entrar em suas propriedades, em busca de provas do uso não autorizado de sementes patenteadas pela empresa." (in https://pt.wikipedia.org/wiki/Monsanto_%28empresa%29).

A introdução destas sementes geneticamente modificadas veio diminuir o cultivo das sementes originais, acabando com muita da diversidade existente. A isto junta-se o facto que ao patentearem as sementes estão a impedir o livre acesso à reprodução de determinado produto pelos meios tradicionais. Para mais informações leiam O controle pelas multinacionais. Todavia, o caso piora quando esteve em discussão uma lei para a UE que proibia o uso de todas as sementes não registadas (incluindo as sementes tradicionais), felizmente essa lei foi chumbada (Lei das sementes rejeitada por maioria no parlamento europeu). Mas nada impede que se tente novamente legislar sobre esta questão.

O problema é que estamos a registar e patentear algo que é de todos por direito, as sementes são parte da natureza, são vida, são a nossa forma de sobrevivermos, são elas que nos dão o alimento. Além disso as sementes são livres, germinam onde querem, voam e existem polinizadores que as vão alterando.

"Com o plantio de sementes patenteadas pela Monsanto, o pólen destas “contamina” outras variedades existentes na região, que passam a produzir sementes com as características das da Monsanto. Esta então processa os produtores vizinhos e exige legalmente destes o pagamento de royalties à empresa, por estarem produzindo sementes que são patentes dela. Em resumo: a monsanto está rapidamente se tornando proprietária de uma variedade enorme de sementes, seus laboratórios estão criando sementes patenteadas de tudo, cereais, frutas, hortaliças, etc." (in http://www.noticiasnaturais.com/2009/09/filme-o-mundo-segundo-a-monsanto/#ixzz3rvVFNJyr).

Além disto, os cereais transgénicos destas grandes empresas são resistentes aos seus herbicidas como o caso do Roundup. O que significa que os campos são pulverizados com estes produtos sem que o cereal morra, mas deixando nele as suas características. Andamos a comer soja e milho pulverizados com Roundup que como vimos é cancerígeno. Se não o comemos directamente, comemos indirectamente.

E porque é que me lembrei disto tudo? Porque vi este vídeo.


E lembrei-me que há uns meses ali nos campos de milho de Montemor-o-Velho reparei que todos tinham indicação de que milho era aquele, não era Monsanto, era Pioneer. Mas lá estava o milho todo catalogado.  Esta imagem retirei de um site brasileiro, mas era tipo isto mas num campo bastante vasto:

Imagem retirada de http://portaldoagronegocio.com.br/noticia/dupont-protecao-de-cultivos-e-pioneer-expoem-portfolio-para-milho-e-soja-em-lucas-do-rio-verde-125477

Enquanto cidadãos comuns não sei bem o que podemos fazer para travar estas coisas. Bem na altura sobre a lei das sementes da União Europeia assinei petições, mas também nunca tenho bem a certeza se alguém liga às petições. Podemos claro comprar produtos biológicos, não usar Roundup nos nossos quintais, etc, mas somos enquanto indivíduos demasiado pequenos para fazer face a todos os interesses que existem. No entanto, convém estarmos informados e sabermos o que acontece no mundo e como isto põe em causa a nossa alimentação, a biodiversidade e a qualidade dos solos. Coisas que temos garantidas desde o início da humanidade são cada vez mais controladas por um número minúsculos de grandes multinacionais. Isto é capitalismo puro.

Desde sempre que as pessoas semearam as suas próprias sementes, deixadas de uns anos para os outros, escolhidas todos os anos. E mais do que isso, desde sempre que as sementes foram livres, já contei certamente dos tomateiros que nascem por todo o meu quintal, qualquer dia tenho a Monsanto a bater-me à porta porque não comprei aquelas sementes? Eu sei que eles não vêm a pequenos quintais, mas nunca se sabe.

E para terminar deixo uma música de um dos meus grupos portugueses favoritos: Diabo na Cruz com Verde Milho.

"Verde, verde milho, milho verde
Clonado a vapor
O gato tem preguiça
O vampiro tem perícia de actor
Verde, verde milho, milho verde
Deitado num manto
Era o nosso milho
Agora é milho Monsanto"


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