quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Alimentação - o meu calcanhar de Aquiles?

No que se refere à alimentação não sei se sou muito sustentável, é uma verdade que não posso esconder.

Imagem retirada de http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.pt/2012/03/dia-mundial-da-agua-2012-agua-e.html

É um bocado assustador não é? A água gasta para produzir a nossa alimentação. Mas sendo a água um bem que tem o seu próprio ciclo e que permanece sempre no nosso planeta, isso não seria um grande problema, se grande parte destas industrias não a poluíssem, levando à consequente poluição de solos, etc, etc... E claro, se a água tivesse uma distribuição homogénea pelo mundo, a qual não é de todo uma realidade. Por isso, o problema é grande.

Assim, como vemos na imagem, a produção de manteiga e carne de bovino tem um consumo elevadíssimo de água. E eu consumo as duas coisas. Além do gasto em água, não nos podemos esquecer das embalagens usadas, da energia total, dos transportes, provavelmente, uma infindável lista.

Segundo se sabe, uma alimentação vegetariana gasta muito menos água do que uma alimentação mista. Embora, eu tenha as minhas dúvidas. Eu podia ser vegetariana? Podia. Mas talvez não seja porque acho que não é no consumo de carne que reside o problema. O problema da alimentação e da sua sustentabilidade, na minha percepção, reside no consumo excessivo de carne e no consumo excessivo de bens vindos do outro lado do mundo (tipo café e cacau - calcanhar de Aquiles, mais uma vez).

Claro que quem decidiu não comer carne por uma questão animal ou uma questão de saúde, acho que tem o meu apoio. Mas pela questão ambiental, não acho que uma pessoa que deixe de comer carne seja automaticamente mais sustentável por isso.

Há uns tempos fui a um workshop de cozinha vegetariana, gostei muito das receitas que aprendi, mas bem não achei que a preocupação ambiental fosse muito grande. Primeiro, era uma alimentação ovo-lácteo-vegetariana, as natas utilizadas nem sequer eram produzidas a partir de leite nacional (eu tenho sempre atenção à proveniência dos produtos lácteos que consumo); segundo a sobremesa que fizemos foi mousse de lima (não existem limas em Portugal, estas são normalmente importadas da América do Sul); terceiro, utilizámos enchidos de soja, a produção de soja é uma das principais ameaças à biodiversidade das florestas da América do Sul, as plantações de soja põem em causa a vida de várias espécies de flora e fauna (quem tiver dúvidas pode ler esta notícia, Boom da Soja é das principais ameaças ambientais na América do Sul).

Esta questão da soja faz-me pensar que mesmo pela causa animal, a soja não é uma grande alternativa, nem pela questão de saúde, já que está cheia de químicos, a não ser que se compre apenas soja biológica. Sem contar que a soja tem de ser importada.

Também sei, que grande parte da soja plantada no mundo, não serve para a alimentação humana directa, mas para a alimentação na indústria pecuária. Por isso, quem come carne como eu, está a pecar duas vezes.

No fundo, o que eu vos quero dizer é que acho que tentar ser mais sustentável em termos de alimentação é muito difícil, porque por trás dos alimentos escondem-se imensas variáveis, as quais nem muitas vezes imaginamos.

Claro que uma das soluções pode ser comer sempre alimentos biológicos, mas sinceramente em Portugal não temos capacidade económica para os comprar. Eu não tenho, só de vez em quando.

Assim, eu continuo a fazer uma alimentação tradicional, como carne, peixe, lacticínios, etc. E mais uma vez, acho que as três opções mais sustentáveis que podemos ter são:

- Evitar o desperdício, ter atenção às quantidades, não desperdiçar carne, por exemplo pode significar muito menos animais abatidos diariamente;
- Ter atenção à origem dos alimentos, comprar alimentos de origem nacional, mesmo que sejam ligeiramente mais caros. Poupar 5 cêntimos num pacote de arroz que veio do Suriname é assim tão mais importante que comprar arroz do Sado?
- Sempre que possível produzir os nossos próprios alimentos ou comprá-los a vizinhos que o façam.

Relativamente à primeira opção, o que me custa não é comer animais, o que me custa é comer animais que foram criados em condições lastimáveis (o caso dos frangos, por exemplo), e pior ainda, saber que grande parte desses animais simplesmente foram parar a um qualquer caixote do lixo.

Relativamente à segunda opção, ter sempre em atenção a proveniência do produto, há coisas que só compro de produção nacional: arroz, massa, carne, lacticínios; frutas e vegetais sempre que possível compro nacionais. O vinho por exemplo, eu não bebo, mas o meu namorado só compra vinho nacional, sendo que ultimamente só tem comprado da nossa região, Península de Setúbal.

Relativamente à terceira opção, já falei noutra postagem Na cidade não há hortas, sobre os produtos que temos em casa. Além dos produtos agrícolas, temos galinhas, coelhos e cabras, o que faz com que não se compre este tipo de carne, nem ovos. No Domingo passado o nosso almoço, por exemplo, foi feijoada de coelho, coelho caseiro, feijão caseiro, cebola caseira, tomate caseiro, ervas aromáticas caseiras, até o vinho para temperar a carne era dos meus sogros. Sabem o que em termos de sustentabilidade e lixo isto significa? Uma produção quase nula de embalagens, um gasto de energia muito reduzido. Claro que nem todos podem ter um quintal onde ter estes alimentos. Mas às vezes, talvez conheçam alguém que vos dê ou a quem possam comprar. Por exemplo, os meus sogros costumam comprar carne de bovino a pessoas particulares que ainda criam vacas praticamente só com erva, muito mais sustentável, muito menos hormonas.

Mas bem esta é a minha opinião, talvez eu pudesse ser mais sustentável a nível da alimentação, é algo sobre o qual ainda tenho imensas dúvidas. Mas o que é necessário é pensar, ponderar e aos poucos nos tornarmos melhores para o nosso planeta.


1 comentário:

  1. Adorei o post! Realmente, até chegarem ao supermercado (e à embalagem final) os produtos alimentícios já provocaram tanto desperdício e impacto ambiental que nos faz pensar... Tento comprar produtos nacionais sempre que possível e gostava de comprar mais produtos biológicos, mas enfim, há que gerir o orçamento como se pode! Por isso, ficotão contente quando recebo coisinhas das hortas dos familiares! (enquanto não posso ter a minha...)

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