domingo, 6 de novembro de 2016

A bordo: o lixo viajante

Recentemente veio a público uma notícia que tem deixado muita gente (com razão) indignada. Afinal, Portugal está a receber toneladas de lixo italiano... Pelo que percebi da notícia, o lixo vem para ser depositado em aterro, o que é perfeitamente legal (daí a eu concordar é outra questão). No entanto, parece que a questão do lixo no Sul de Itália tem muito que se lhe diga, nomeadamente por ter sido controlado durante anos pela máfia, por isso mesmo, existe a desconfiança que entre os supostos resíduos urbanos que recebemos também existam resíduos perigosos. Segundo a notícia, a exportação de lixo foi a solução encontrada por Itália para travar a multa imposta pela União Europeia (multa motivada pelos resíduos acumulados sem destino e seus respectivos impactes ambientais).

O que significa que eles vendem o lixo e o problema "resolve-se". Sou contra! O lixo é algo demasiado importante para o andarmos a passear e a transportar de um lado para o outro. Além disso, por uma questão de justiça acho que cada um deve ficar com o seu lixo, não descartar o problema para outro país. Afinal, por mais que pague, nada paga (no meu entender) as implicações referentes aos aterros e à necessidade de mais aterros.

No fundo, eu nem sabia bem que os "países ricos" também recebiam resíduos de outros países, acreditava que apenas os "países pobres" faziam isso.

E agora vamos fazer uma viagem até aos anos 80 do século XX no Khian Sea. Conheci esta história há pouco tempo e fiquei fascinada, quer positiva (atitude da Greenpeace e governos locais), quer negativamente (incineradora de Filadélfia e governo norte-americano).

Como o ano em que nasci é um ano bastante histórico (desastre de Chernobyl) também esta história começou em 1986. Uma incineradora de Filadélfia nos Estados Unidos da América quis "despachar" as suas cinzas (15 mil toneladas). A gestora de resíduos contratada decidiu pôr as cinzas no navio Khian Sea, o qual haveria de levar o lixo americano para bem longe, para algum "país pobre". Durante 16 meses, o navio navegou pelo mundo tentando descarregar as cinzas. Honduras, Panamá, Guiné-Bissau e Antilhas Holandesas foram os destinos em que tentaram descarregar este material. No entanto, as autoridades destes países, avisadas pela Greenpeace, não deixaram.

Entretanto, conseguiram convencer o Haiti a ficar com as cinzas, para tal disseram que as cinzas eram fertiliizante para os solos. Quando as autoridades haitianas foram avisadas da verdadeira carga do navio, já a tripulação tinha descarregado 4 mil toneladas na praia de Gonaives, foram obrigados pelas autoridades haitianas a voltar a carregar as cinzas, mas zarparam deixando lá as cinzas a céu aberto (só no ano 2000, as cinzas voltaram para a origem e finalmente tiveram o "fim" desejado. Como hão-de compreender 4 mil toneladas de cinzas a céu aberto durante 14 anos, significou que uma grande quantidade foi levada pelo vento ou arrastada pela maré).

Depois de deixarem as 4 mil toneladas, o navio continuou à procura de destino para as 11 mil toneladas de cinzas que restaram. Senegal, Ski Lanka, Singapura foram destinos em que tentaram desembarcar a carga, sem sucesso. O navio mudou de nome, mas nunca conseguiu descarregar. Em 1988, algures entre Singapura e o Sri Lanka as cinzas desapareceram.

As cinzas do lixo de Filadélfia foram lançadas ao mar anos depois, numa área geográfica distante, contribuindo para a poluição do oceano e tudo o que aí advém.

Retirei esta informação deste site, para saberem mais pormenores consultem-no.

Imagem retirada de http://resources.gale.com/gettingtogreenr/uncategorized/the-strange-saga-of-the-khian-sea/


Quantas histórias destas existiram/existem?

Talvez não muitas como a que contei. Mas quanto lixo haverá a circular pelo mundo fora? Cada um deve cuidar do seu lixo, isso começa pelo indivíduo, passando pelas autarquias locais, entidades gestoras de resíduos, estados. Se não conseguimos controlar/cuidar/dar o fim adequado ao nosso lixo, a solução não deve ser que outro o faça, a solução deve ser repensarmos o lixo que fazemos.

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