segunda-feira, 18 de abril de 2016

Leite materno, suplemento e alimentação complementar: o meu testemunho

Já falei sobre a difícil tarefa da amamentação, escrevi aqui e aqui. A última vez que o escrevi estava em aleitamento materno exclusivo, mas pouco tempo depois de o Luís fazer um mês fui com ele à pediatra. Eu andava estoirada de cansaço porque ele estava sempre a mamar e a pediatra depois de o pesar disse que não podia ser, o bebé não podia estar a engordar tão pouco (em 15 dias tinha engordado umas 20 gramas). Aliás, disse que no centro de saúde eram uns irresponsáveis porque ainda não me tinham mandado dar suplemento e que o meu leite não supria as necessidades do bebé. Ainda me lembro da frase: "O seu leite não tem as características nutricionais necessárias".

Vim para casa de rastos. Segundo a pediatra, eu devia começar a dar-lhe suplemento em todas as mamadas, podendo mesmo trocar algumas mamadas pelo suplemento. Como, felizmente sou informada, não fiz quase nada daquilo que ela disse. Se o tivesse feito, neste momento provavelmente não teria leite e teria um grande problema pelo que vou contar mais à frente. E como é óbvio nunca mais fomos aquela pediatra.

No entanto, o meu estado de cansaço era imenso e ninguém gosta de saber que o filho não está a engordar. Sentia-me cansada, frágil e com pouco leite. A verdade é que não há leite fraco, é um facto, mas o cansaço e os nervos podem fazer com que a quantidade de leite diminua, o que acho que foi o que me aconteceu. Ele bem tentava mamar, mas já pouco saía.

Falei com a médica de família que me disse que se eu me sentia realmente cansada e sem forças que talvez fosse mesmo melhor dar um pouco de suplemento. Não pela qualidade do meu leite, mas porque eu precisava de estar bem para o resto das tarefas maternas. E concordo com ela, ser mãe não é só amamentar. Claro que amamentar é a melhor coisa que podemos fazer, mas não devemos ser fundamentalistas e devemos perceber os nossos limites. Sei que há muito quem não concorde comigo, quem ache que ser mãe é aguentar tudo. Mas ser mãe é procurar o melhor para eles e isso também passa por ter uma mãe com energia.

Então o que eu decidi fazer foi dar-lhe mama sempre que ele pedisse e quando para o fim da tarde, eu percebia que estava exausta de cansaço e que ele não ficava saciado (eu não descansava, o leite não repunha com tanta facilidade) dava-lhe um bocadinho de suplemento. A quantidade que eu dava normalmente de suplemento diário era 60 ou 90ml, o que é quase nada, nem chega a um biberão.

De qualquer forma, estava sempre a pô-lo na mama para ver se a minha produção de leite aumentava. E aumentou, de tal forma que comecei a dar menos suplemento ainda. Mas ainda antes disso, ele começou a fazer cocó com um bocadinho de sangue, aparentemente seria de uma fissura que demorou a cicatrizar. Mas como cada vez mais, sentia que ele ficava mais satisfeito com o meu leite, muitos dias já nem suplemento lhe dava e incrivelmente ele deixava de fazer cocó com sangue. Se voltasse a dar, voltava o sangue. Além disso quando bebia suplemento dormia sempre pior do que quando não bebia.

Um dia, ele teve imenso sangue no cocó, fomos ao hospital e o pediatra de lá depois de eu lhe relatar tudo, disse que provavelmente ele seria intolerante ao suplemento. Na altura não lhe mandou fazer exames porque disse que como a alimentação dele era quase leite materno exclusivo, não era necessário estar a submetê-lo ao exames. E eu acho que foi óptimo, não fazia questão que ele ficasse lá a fazer exames.

No entanto, como o Luís continuava a aumentar pouco de peso, o pediatra do hospital sugeriu que aos quatros meses (faltavam poucos dias) ele começasse com a alimentação complementar. Segundo disse, há bebés que aumentam mais com a introdução dos sólidos. Quando fui à médica de família, ela sugeriu o mesmo. E contra o que diz a Organização Mundial de Saúde (OMS), assim o fiz.

Mas ainda demorei uns dias depois dele fazer os quatro meses a introduzir os sólidos. A médica de família tinha-me dito que podia ser difícil e que tínhamos de ir tentando. Mas nada foi tão fácil, na primeira colher de sopa, ele abriu logo a boca, aliás uns dias antes já tinha tentado abocanhar uma banana. No fundo, pelo que já li, o Luís já andava a mostrar os sinais que estava pronto para comer. Segundo esta publicação da Dra. Mónica Pina, o Luís já apresentava dois dos três sinais que estava pronto para a introdução dos sólidos, já não punha a língua de fora quando levava algum objecto à boca e já mostrava interesse pela nossa comida. O sentar completamente direito é que nem por isso.

Mas bem não estou arrependida da minha opção, acho que devemos seguir as directrizes da OMS, mas também devemos compreender que cada bebé é único. Na publicação que referi acima, a Dra. Mónica Pina diz que:

"Nem todos os bebés estão prontos com a mesma idade. Alguns, poucos, mostram esses sinais por volta dos 4 meses, a maioria por volta dos 6 meses, sendo que alguns o fazem mais tarde, até cerca dos 8 meses."

Mas claro, se ele não quisesse comer, acho que não se deve obrigar. Muito menos, dar-lhe alimentação complementar por biberão como já ouvi. Ou pessoas que deixam de dar leite porque lhes dão sopa.

Normalmente o que eu faço é, dou mama ao Luís antes do meu almoço, quando acabo de almoçar dou-lhe a sopa e depois volto a oferecer mama, uns dias aceita outro não. Depois da sesta da tarde, dou-lhe um bocadinho de fruta e depois mama, ele adora mamar depois de comer a fruta. As papas ficam para mais tarde e por enquanto, esta alimentação é mais que suficiente, afinal ele é muito pequeno. Já aconteceu um ou outro dia não lhe dar fruta e ele fica bem só com a maminha. Também já aconteceu duas vezes quando lhe vou dar a sopa, ele chorar, eu dar-lhe mama e a seguir tentar a sopa e ele já querer. No fundo, os bebés são como nós, uns dias apetece mais, outros menos, é assim.

Segundo, algumas pessoas que conheço, se ele aceitou tão bem a sopa e a fruta, já lhe devia dar mais refeições. Mas não nos devemos esquecer que até um ano de idade o leite materno deve ser o principal alimento deles, quanto menos leite lhe der, menos leite terei. Por isso, por enquanto continua assim.

Este é o meu testemunho, gostaria de ter dado só leite materno exclusivo e depois de ver que ele não tolera bem o suplemento ainda mais triste fiquei por lho ter dado. Mas se o fiz, foi porque sempre tentei fazer o melhor. Já ouvi muitas pessoas falarem contra quem dá suplemento ou quem introduz os sólidos aos quatro meses. Mas é fácil ser contra quando os bebés mamam bem, as mães não têm dores a amamentar, os bebés aumentam bem de peso. Mas quando se amamenta em livre demanda e mesmo assim, as coisas não correm bem, uma pessoa tenta tudo para que o bebé cresça e se desenvolva. Todavia, e contra mim falo, não devemos ser reféns da balança, o Luís sempre aumentou pouco de peso, mas sempre foi saudável.





Imagem retirada de http://shop.kmberggren.com/Mama_s_Milkies_10_art_from_the_book_p/mm10.htm

No entanto, embora não seja contra o suplemento, depois do que aconteceu ao Luís e de várias histórias que já ouvi, acho que quem decide não amamentar deve ter muito cuidado com essa escolha. Um bebé que só beba suplemento e que seja intolerante ou alérgico à proteína do leite de vaca pode ter sérios problemas.

Além disso, o leite materno é gratuito e uma verdadeira preciosidade para o sistema imunológico. Em quase cinco meses de vida, o Luís nunca teve febre e só esteve constipado uma vez. E acredito que o leite materno tem sido fundamental para ele ser um bebé saudável.

A maternidade é feita de altos e baixos, amamentar nem sempre é fácil, mas vale a pena. Por mim, só paro de o fazer quando ele deixar de querer. E não me venham com essa história de bebés grandes a mamar é feio. O que é feio é a corrupção, a poluição, o egoísmo, bebés a mamarem nunca é feio.

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