sábado, 12 de março de 2016

Casas de banho públicas, uma miragem

Alguém ainda se lembra de ir às casas de banho que eram guardadas por uma pessoa que nos dava uns quadradinhos de papel higiénico? Não eram de pagamento obrigatório, mas as pessoas davam sempre qualquer coisa à pessoa que cuidava da casa de banho. Eu lembro-me de ir a uma no Cais do Sodré, em Lisboa.

No outro dia, li esta notícia Estação Roma/Areeiro não tem casas-de-banho e está cheia de ratos, o que me fez relembrar deste problema. Não existem casas de banho públicas em grande parte de Portugal, destaco, claro, Lisboa. Primeiro, destaco-a porque é a cidade onde passo grande parte da minha vida, em segundo lugar destaco porque é a capital do país. Não existirem casas de banho públicas é vergonhoso para os cidadãos nacionais que pagam os seus impostos e também o é para os turistas. Afinal queremos projectar Portugal e Lisboa como óptimos destinos de férias, e depois, não existem sítios para urinar e defecar.

No entanto, quero também destacar o facto de em diversas aldeias, vilas e cidades pequenas portuguesas existirem casas de banho públicas em quantidade suficiente. Adoro ir a Góis e ir a uma casa de banho sem ser obrigada a beber um café ou a pedir se posso utilizá-la.

Mas voltando à inexistência de casas de banho públicas, em Lisboa não há que pertençam à Câmara Municipal (não quer dizer que não exista uma ou outra), não existindo também muitas vezes nas infra-estruturas de acesso público como é o caso das estações de transportes públicos. Uma pessoa está normalmente condenada a ir à casa de banho de um café, tendo de consumir (sim porque os cafés estão abertos para fazer negócio, não para fazer serviço público).

Em algumas infra-estruturas de transportes existem casas de banho pagas e eu até concordo que se pague. Mas para mim, pagar 1€ ou 0,50€ para ir à casa de banho num país cujo ordenado mínimo de situa por volta dos 500€ é um exagero. Lembro-me de ter ido à República Checa e na altura pagava-se em todas as casas-de-banho (até nos centros comerciais), mas era um valor simbólico, daria cerca de 0,20€ ou 0,10€. Bem era simbólico para mim, não sei quanto era o ordenado mínimo deles na altura.

Mas o que eu quero dizer é, por favor façam casas de banho públicas, mesmo que sejam a pagar, mas não queiram enriquecer com os xixis e cocós dos outros.

E agora vou contar duas histórias sobre a inexistência de casas de banho.



História número 1, a história dos outros


Há uns tempos estava eu à espera do metro na Estação do Oriente, em Lisboa, estava já na plataforma, quando uma senhora com uma criança de uns três anos aproximou-se de mim a perguntar-me onde era a casa de banho. Disse-lhe que ali não existia, que teria de sair, o que faria com que depois tivesse de comprar novo bilhete, mas que mesmo assim, eu não tinha a certeza se a estação do metro tinha casa de banho. Mas bem eu lá lhe disse que se a estação de metro não tivesse, que achava que a do comboio tinha, pelo menos no Centro Comercial Vasco da Gama havia de certeza. No entanto, acho que a senhora não quis perder o dinheiro que já tinha gasto nos bilhetes e lá disse ao menino que ele tinha de aguentar até a Ameixoeira. "Possa!", pensei eu, do Oriente até a Ameixoeira ainda é bastante e as crianças não costumam aguentar.


História número 2, a minha história


O Verão passado fui assistir a um concerto das Festas de Lisboa, na Praça do Comércio, como estava grávida achámos que era mais fácil ir de barco até ao Cais do Sodré e depois era só um bocadinho a pé, do que ir de carro e deixá-lo longe (porque não queremos pagar um dinheirão por parques, claro está). Lá fui de barco, vimos o concerto, tudo muito bem, voltámos para apanhar o barco para Cacilhas e fiquei com vontade de fazer xixi e uma grávida quando tem vontade não aguenta, pelo menos não aguenta tanto. Aquela hora não há tantos barcos, por isso tínhamos de esperar ainda uma meia-hora e eu aflita. As casas de banho da estação dos barcos, as quais são pagas, estavam fechadas. Sim, a estação está aberta, mas fecham as casas de banho. Então fui à estação dos comboios, e não é que as casas de banho também estavam fechadas (não sei se estas são a pagar ou não). Ou seja devia ser 1 hora, os barcos e os comboios estavam a funcionar, mas as casas de banho não. Obviamente aquela hora também já não há cafés onde ir, há bares, mas eu não ia a um bar de propósito para ir à casa de banho. Então esperei pelo barco, afinal no barco há casas de banho e foi uma experiência inesquecível. Acho que nunca tinha ido à casa de banho de um cacilheiro. Quando entrei no barco fui logo direita à casa de banho, no sítio propriamente dito onde está a sanita não havia luz e o autoclismo não funcionava. Saí, fui lavar as mãos, claro que não havia água, e obviamente também não havia sabão (diga-se passagem que sem água, não precisava de sabão para nada). Aquele barco estava cheio de gente (que também tinham ido para a festa) e quando saí da casa de banho já não havia lugares sem ser ali, sentámos-nos ali perto. Quando o barco atraca, quem anda de cacilheiro sabe como eles costumam bater bem na muralha, só vejo a sair da casa de banho um líquido (pensei escrever água, mas acho que não era água) e um cheiro a urina por todo o lado. Umas raparigas, coitadas, tinham encostados ali uns sacos, não sei se não terão ficado molhados. É sempre agradável saber que a minha urina estava por ali. Decidi que nunca mais vou à casa de banho de um cacilheiro, a não ser que esteja aflita e grávida.



Mas não sejamos ingratos, sim não podemos ser, Lisboa tem poucas casas de banho públicas, mas tem a casa de banho pública mais sexy do mundo. Isso mesmo, na Praça do Comércio, a The Sexiest WC on Earth.

Epá, eu sei que acabei de reclamar das condições da casa de banho do cacilheiro, mas eu não preciso de ir à casa de banho mais sensual do mundo e pagar 1€ (se bem que não tenho nada contra a existência desta casa de banho, sobretudo se quem a fez foi a Renova), mas chega a ser ridículo que uma cidade que mal tem casas de banho públicas, depois tenha aquela a que chama a mais sexy do mundo. Acho que isto é muito espírito português, achamos que devemos ter sempre coisas incríveis, quando se calhar era melhor termos simplesmente coisas funcionais que cumprissem as necessidades. Mas bem, pelo menos assim com esta ideia de casa de banho da Renova, sempre há uma alternativa, embora não para pessoas que tenham pouco dinheiro.

Mas afinal o que é que eu acho que faria sentido? Equipar os municípios com casas de banho públicas, a distância a que estariam umas das outras e a sua localização dependem claro da densidade e características dos municípios. Mas certamente que algumas esquinas deixariam de cheirar tanto a urina, os cidadãos ficariam mais contentes e os donos dos cafés também. Afinal, os nossos impostos são para melhorar a nossa vida ou não? E já agora infra-estruturas de transportes públicos deviam ser obrigadas a ter casas de banho a funcionar desde que haja transportes em circulação. E para terminar, os transportes públicos também deviam ter casas de banho decentes.

Agradecíamos nós, e certamente que os turistas também. Afinal do que vale ganhar tantos prémios de turismo, se depois, Lisboa nem consegue satisfazer uma das necessidades mais básicas do ser humano.

Uma vez um amigo disse-me que havia um urinol público nos Olivais, Lisboa, procurei imagens, mas apenas encontrei este desenho
Imagem retirada de http://retratoserabiscos.blogspot.pt/2011_05_01_archive.html

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