quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Feminismo, licença de paternidade, o homem e a família

Se houve coisa que percebi nestes nove meses de gravidez é que realmente sou feminista. Eu sempre fui um bocadinho contra o feminismo porque sempre achei que a ideia estava ultrapassada. Mas a gravidez fez-me perceber que não. Eu acreditava que o feminismo estava ultrapassado porque no meu interior tinha a crença que a igualdade de género já era uma coisa bem assente e definida na sociedade. Como eu sou crédula!

Mas é importante saber o que é o feminismo, já dizia um professor que tive, "definam os conceitos".

Feminismo é um movimento social, filosófico e político que tem como objetivo direitos equânimes (iguais) e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões opressores patriarcais, baseados em normas de género.(in https://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo

E ser feminista ao contrário do que muitas mulheres pensam por aí, não é achar que as mulheres são melhores ou especiais, pelo facto de serem mulheres. Também não tenho paciência para o dia da mulher porque em geral só oiço coisas deturpadas. Alguém acha mesmo que ás mulheres são mais inteligentes que os homens? Para mim, esse tipo de argumento está ao nível do homem ser mais inteligente que a mulher.

Há sempre alguém que já desenhou o que pensamos
Imagem retirada de http://cinismoilustrado.com/

O feminismo, no meu entender e o facto de se comemorar o dia internacional da mulher tem razão de ser porque se comemora a igualdade entre homens e mulheres. A qual, neste caso se refere sobretudo às mulheres terem conseguido ascender, pelo menos teoricamente, à mesma posição do homem, em termos de oportunidades e de possibilidade de escolha. Mas que também deveria ser os homens terem a oportunidade e a possibilidade de escolher coisas que são estereotipadas como de mulher. Nisto, o que eu quero dizer é que devíamos em vez de comemorar o dia da mulher, comemorar o dia da igualdade de género.

Mas pronto durante a gravidez apercebi-me de como esta igualdade de género não é real. E não é só o preconceito do homem para com a mulher, mas também o preconceito da mulher para com o homem.

Podem até me dizer que as mulheres e os homens são diferentes. E são, tal como as mulheres não são iguais entre si e os homens também não. Mas as grandes diferenças entre homens e mulheres residem na educação diferenciada, a qual começa logo dentro do útero.

Há coisas para meninas e para meninos desde o nascimento, a distinção entre sexo parece ser fundamental para 90% da população. E nem vale a pena voltar a contar as coisas que já ouvi porque já o referi aqui no blogue. Mas vejam esta notícia Neste catálogo, os meninos brincam com bonecas e as meninas com ferramentas. Parece que em algumas coisas estamos mesmo a retroceder na dita igualdade.

E nestes casos, acho que é muito mais difícil ser homem, ser menino. Uma menina que goste de coisas de menino é considerada com certo desdém maria-rapaz, mas aceita-se. Já um menino que goste de coisas ditas de menina é desde a sua infância referenciado com uma tendência homossexual. O que pode ser verdade ou não. Mas se de facto aquela criança, mais tarde, não se definir/sentir homossexual vai deixar os seus gostos para trás para não ser visto como homossexual. No caso de mais tarde se definir/sentir homossexual provavelmente vai passar a adolescência e mesmo parte da vida adulta a reprimir-se, pois desde pequeno que lhe passaram a ideia que ser homossexual é errado. Claro que há homossexuais sem qualquer problema em se assumirem, bem como heterossexuais sem problemas em terem gostos considerados de mulher, mas convinhámos que nem sempre é fácil numa sociedade sempre pronta a apontar o dedo.

Mas não é só nestes casos que acho que os homens são vistos ainda com mais preconceito. Outro aspecto que a gravidez me fez descobrir é que o papel do pai é amplamente renegado em relação ao papel da mãe. É verdade que é a mãe que carrega o filho no útero, que o pare, que amamenta e acredito mesmo que por isso estabeleça um elo com o bebé mais precocemente que o pai.

Mas isto não significa que a mãe tem ou deve ter um papel mais importante que o pai na vida daquela criança. Nem tão pouco que as mulheres estão mais preparadas para tratar de um bebé que os homens. E as que estão é sobretudo por uma questão de educação. Ser mãe não é mais importante que ser pai. E as funções de ambos não têm de ser diferentes, serão diferentes por uma questão de personalidade. Mas não há funções definidas para a mãe e outras para o pai. A harmonia familiar desenvolve-se quando o casal partilha as funções. Aliás, aquela história de o homem ajudar a mulher nas tarefas domésticas não é no meu entender a forma correcta de ver as coisas. As tarefas domésticas devem ser partilhadas, sem predomínio de um, tal como todas as outras decisões.

Mas voltando ao bebé, nos últimos tempos tenho ouvido muito por parte de pessoas mais velhas que não vou ter ninguém que me ajude, uma vez que já não tenho mãe. E não estou com isto a dizer que não sinto falta da minha mãe, sinto bastante, mas não neste caso específico. A minha sogra por vontade dela vinha ajudar-me a tratar do bebé durante as primeiras semanas, meses, eu sei lá. Mas não é só ideia dela, também na minha família me perguntaram se a minha sogra não vem cá para casa, uma vez que não tenho mãe, porque a pessoa precisa de ajuda pelo menos nos primeiros dias. Mas já ouvi pessoas pouco mais velhas que eu a dizer que nos primeiros tempos, a mãe ou a sogra têm de estar em casa para ajudar a dar banho, mudar a fralda, etc, etc.

E isto faz-me pensar, mas afinal para que serve o pai da criança? Sem menosprezar a ajuda das mães e das sogras que podem realmente ajudar, mas quem deve assumir o tratamento do bebé nos primeiros meses são os pais. A mãe e o pai, por isso existe a licença de maternidade e a licença de paternidade (a qual vai passar a 15 dias úteis depois do nascimento). A licença de paternidade não é para o pai ficar de papo para o ar de férias, é obviamente para tratar do bebé e criar os laços essenciais com este.

E o que me chateia é que não basta aqueles pais que não querem saber e acham que aquilo é competência da mulher. Como depois há as mulheres que passam atestados de incompetência ao homem. As mulheres em geral, desde a família paterna, à família materna e à sua própria mulher.

Claro que cada vez isto é uma realidade menos comum, mas ainda é demasiado vista para meu gosto.

Lembro-me de andar na primária e a professora perguntar se gostávamos mais da nossa mãe ou do nosso pai. Hoje em dia, percebo a tamanha estupidez de tal pergunta a crianças de sete ou oito anos. Quase todos disseram que gostavam mais da mãe, aos que disseram que gostavam mais do pai, a professora perguntou porquê com grande admiração. Mas o ideal não é que as crianças gostem de ambos da mesma forma? Se sintam tão confiantes com o pai como com a mãe? Eu penso que sim.

2 comentários:

  1. Por cá, o pai não pode tirar licença, por isso em geral estou sozinha com o Afonso. A minha mãe e sogra têm-me ajudado sempre que podem. Mas não as queria cá a ficar! A ajuda (principalmente com as refeições) é muito apreciada, mas não substituem o pai e o fim da tarde e fins de semana é para vivermos em família os 3! :)
    O pai ainda lhe faz um bocadinho de impressão mudar as fraldas e vestir/despir, mas ha outras coisa que é principalmente ele a fazer, como cortar as unhas, limpar os olhos, por soro... E é do melhor a acalmar cólicas! :)

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  2. Que chato o pai não ter podido tirar licença :/
    O problema é que os meus sogros vivem a cerca de 200km, o que significa que ou estão mesmo cá em casa ou não podem ajudar em nada. E nós ainda vivemos com o meu pai, se bem que ele já disse que quando o bebé nascer vai passar uns tempos fora (com ele nunca nos chateamos muito porque é daquelas pessoas muito independentes que está tudo bem e nunca se mete nos nossos assuntos). Mas também acho que os primeiros tempos devem ser aproveitados a três, afinal estamos a conciliar os laços com o nosso filho e também é uma fase de descoberta para os pais de primeira viagem...

    Espero é que cá por casa o pai também se adapte a cortar unhas, limpar olhos... mas acho que mais depressa muda as fraldas :P

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