segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Prioridade

Agora que estou grávida descobri essa coisa magnífica de ter prioridade. É um direito e acho muito bem. Mas tem dias...

Costumo ir para as filas de supermercado com caixas exclusivas (caso do Continente) ou com caixas prioritárias (caso do Jumbo). E dá-me imenso jeito, bem como nas finanças, por exemplo. Mas esta história da prioridade faz-me confusão, não as grávidas terem prioridade, mas outras pessoas que não têm.

Fui aos correios levantar uma encomenda e estavam cerca de cinco senhoras idosas à minha frente, o senhor que trabalha nos correios disse-me para eu passar à frente porque tenho prioridade. Recusei. Não estou com isto a dizer que todas as grávidas devem recusar, cada uma sabe como se sente. Mas a olhar para as senhoras com mais de setenta anos, algumas quase nos noventa e a olhar para mim, acho que mesmo com a aproximação do fim da gravidez tenho muito mais condições físicas para esperar do que elas, por isso recusei. É um direito é verdade e uso-o quando me sinto mais cansada ou quando a fila é composta por pessoas que se vê que estão visivelmente bem.

Lembro-me de uma vez, poucos meses antes de termos descoberto a doença da minha mãe, fomos tratar de qualquer coisa à Segurança Social. Isto foi em Agosto e aquilo estava lento, lento, uma quantidade de grávidas e de pessoas com crianças ao colo (na altura não havia senhas prioritárias, os prioritários chegavam à frente e eram atendidos). Esperamos eternidades para sermos atendidas. E não desconfiando que realmente algumas grávidas estivessem incapacitadas, lembro-me de a minha mãe me dizer que lhe custava muito mais esperar naquela altura em que estava saudável (bem afinal não estava) do que quando estava grávida.

A única coisa que realmente agradeço e aí aceito sempre é se alguém me der lugar num transporte público, único sítio onde realmente me custa estar em pé. Mas o mais engraçado é que já percebi que muitas vezes quem cede o lugar são os que aparentemente mais precisam deles. Por exemplo, há coisa de um mês fui lanchar a uma Padaria Portuguesa, os lugares estavam todos ocupados, muitos por pessoas que já tinham acabado de comer e apenas estavam a conversar ou a mexer no telemóvel. Eu em pé, à espera de lugar para me sentar e quem se levantou para me dar lugar foi um casal que ainda estava a comer. Eu disse bem alto para ver se os outros se tocavam "Obrigada, mas ainda estão a comer", o rapaz respondeu "Deixe estar, comemos em pé". E mais ninguém foi capaz de levantar o traseiro para me dar lugar ou ao casal que entretanto se tinha levantado e ficaram ali nos seus telemóveis e nas suas vidas sem pensarem que havia quem precisasse mais de estar sentado do que eles. A pessoa consumiu tem direito a usufruir do lugar, mas olhar à nossa volta não custa assim tanto.

Nisto, o que eu quero dizer é que mais do que o direito à prioridade ou o dever de dar prioridade devemos estar atentos às nossas condições e às das outras pessoas.

1 comentário:

  1. É bem verdade!
    Eu nos supermercados, nas caixas prioritárias, vou pedindo com lincença, pessoa a pessoa. Mas já apanhei quem se afaste logo, como quem faça muito má cara ou até mande bocas nada agradáveis... Mas nas compras fico mesmo de rastos, por isso tenho aproveitado sempre.
    Agora já calhou noutros sítios não usufruir desse direito porque realmente não precisava. Se até estou sentada e não me sinto mal e tenho poucos números à frente (muitas vezes com pessoas idosas, sim), não vale a pena. (até é mais um bocadinho sentada! ;)

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