quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Refugiados, imigrantes e sem-abrigo

Esta postagem não tem nada que ver com lixo, mas sendo que para mim o cariz social é tão importante como o ambiental aqui vai. Não quero aqui, contudo voltar a passar imagens chocantes, nem saber de quem é a culpa da guerra, nem sequer fazer grande considerações políticas. Quero falar de pessoas, os que fogem, e de pessoas, as que recebem.

Nestes últimos dias, muito se tem falado sobre os refugiados e imigrantes que chegam à Europa. A maioria das pessoas felizmente tem compaixão pelo caso e embora, nem todos saibam o que é um refugiado, acham que devemos ajudá-los.

Primeiro, devemos referir que os últimos casos mais falados são de refugiados, porque fogem de um país em guerra. Eles não são imigrantes que vêm à procura de melhorar a sua condição de vida. Quem vem da Síria foge da guerra, logo é refugiado.

"Refugiado é toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar ao mesmo. Ou devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país" (in https://pt.wikipedia.org/wiki/Refugiado).

Logo quem foge de uma guerra será sempre um refugiado, relativamente aos outros que chegam de vários países, alguns talvez sejam refugiados, outros imigrantes. Cabe ao país que os recebe fazer a análise dos seus casos.

Logo um refugiado, não vem à procura de um país para trabalhar e construir vida. Em geral, um refugiado vem por um espaço de tempo até conseguir voltar ao seu país. Claro que se pode conseguir integrar e estabelecer a sua vida no país de acolhimento e aí formar vida, ter trabalho, etc. Parece que nem alguns dos nossos políticos sabem isto.

Mas bem o que me tem chocado é algumas coisas que leio aí pelas redes sociais. Pessoas que acham que não devemos aceitar refugiados, dar-lhes comida e habitação, porque vamos gastar imenso dinheiro e antes de ajudar os outros devemos ajudar os nossos, os portugueses. Ainda gostava de saber se essas pessoas ajudam alguém. No outro dia, deparei-me com um texto em que comparava o facto que irmos ajudar refugiados e não ajudarmos sem-abrigo, os quais segundo o texto não têm o que comer, nem onde viver. Para ilustrar o texto vinha uma imagem de sem-abrigo nas arcadas da Praça do Comércio em Lisboa.

Já que eu convivo diariamente com sem-abrigo, uma vez que a Avenida Almirante Reis em Lisboa está povoada deles e são meus clientes. Posso dizer o que sei, o que vejo.

A maioria dos sem-abrigo não pede dinheiro na rua, nem anda à procura de comida em caixotes. Porque têm sítios onde irem comer, por exemplo na Av. Almirante Reis em Lisboa têm o refeitório social dos Anjos, não sei como funciona o acesso ao refeitório, mas sei que costumam ir lá comer. Além de que todas as noites passam as carrinhas de várias comunidades que dão comida a estas pessoas e conversam com elas, tentando-lhes dar algum conforto emocional.

Sei que várias pessoas têm algum rendimento, pelo que percebo, porque vão tendo dinheiro mensalmente. Não sei se será algum rendimento social de inserção ou algum tipo de baixa por invalidez. Não digo que todos têm, mas muitos têm.

Em Lisboa existem vários abrigos que acolhem sem-abrigo, onde estes podem dormir, têm roupa lavada, têm refeições gratuitas. Mas estes abrigos têm regras, como hora de entrar, não ser permitido o consumo de álcool, serem obrigados a ter higiene pessoal, não serem permitidos desacatos, entre outras que não devo conhecer.

E segundo sei, é aí que reside o maior problema, é estas pessoas quererem cumprir essas regras. Porque não estão habituadas a regras e muitas vezes não estão preparadas para a mudança. A grande maioria dos sem-abrigo são pessoas que têm ou tiveram problemas de dependência de álcool e drogas, nunca tiveram ou deixaram de ter um contexto familiar que os aceite, muitos tiverem problemas familiares desde pequenos, têm problemas psicológicos e não se conseguem integrar na sociedade, ou muitas vezes não aceitam simplesmente as regras da sociedade em que vivem. Estas pessoas costumam viver em ciclos de auto-exclusão, a qual ainda é maior porque a sociedade em geral também os exclui.

Nisto o que eu quero dizer é que ajudar refugiados, não significa que não se ajudem sem-abrigo. Estar a comparar duas realidades tão distintas é que é no mínimo estupidez. A maioria dos sem-abrigo não necessita de comida ou de uma possibilidade de abrigo, isso eles têm, o que eles necessitam vai muito além disso. Eles necessitam de acompanhamento e de tratamento (aqueles que têm percursos de dependência) e de que a sociedade os aceite melhor. Necessitam, sobretudo de força de vontade e de estímulos para mudarem. E isso não se faz só com dinheiro, comida, tecto e roupa lavada. É necessário trabalhar a parte psicológica das pessoas, quer dos sem-abrigo, quer de quem olha para eles.

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