segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Produtos caseiros não são produtos biológicos

O título pode parecer uma daquelas verdades que todos sabemos, mas achei que devia fazer uma publicação a explicar a diferença entre produtos caseiros e produtos biológicos... E esta decisão veio de uma conversa que tive no outro dia numa mercearia a que costumo ir.

Em conversa, o dono disse-me que também tinham ovos biológicos, eu disse que não compro ovos porque tenho galinhas e ele disse-me que os ovos biológicos são das galinhas da mãe. Pela forma como falou, deu a entender que afinal não são ovos biológicos, mas sim ovos caseiros. Acredito que as pessoas não digam que as coisas são biológicas com intuito de enganar alguém. No entanto, um produto biológico é diferente de um produto caseiro (de pequenos agricultores que não têm na agricultura a sua principal fonte de rendimento, pequenas propriedades como, por exemplo, quintais).

A questão é simples: para um produto alimentar ser vendido como biológico tem de estar devidamente certificado e para estar certificado é necessário cumprir diversos critérios. No caso dos ovos biológicos, as galinhas não estiveram em contacto com químicos, nem tomaram antibióticos, andam à solta e a sua alimentação também é biológica.

É aqui que reside a questão, primeiramente a maior parte das pessoas que têm criações de galinhas não as têm à solta. Podem não estar tão confinadas como nos aviários, mas quase sempre estão em recintos onde não podem obter o seu próprio alimento. Em segundo lugar, embora acredite que seja raro, há quem dê antibióticos às suas galinhas e lhe dê rações de engorda. Sempre achei estranho, mas a verdade é que conheço quem o faça, pessoas que criam animais em casa e só lhes dão farinhas de aviário com medicação. Por último, aquilo que eu acho que ninguém, mas mesmo ninguém faz quando cria galinhas em casa, ninguém lhes dá simplesmente alimentação biológica.

Por exemplo, as minhas galinhas andam à solta (como se pode ver na imagem), não tomam antibióticos, nem rações, mas os cereais que compramos não são biológicos, os nossos restos que lhes damos também não são (pode algo eventualmente ser), a própria erva que cresce onde elas estão não tenho garantia que esteja livre de herbicidas, pesticidas, químicos e outros que tais. No entanto, eu confio plenamente nos ovos das minhas galinhas, muito mais que em qualquer ovo de aviário.

Imagem própria


Mas como acabei de dizer, confio nos ovos das minhas galinhas, bem no fundo acredito que qualquer ovo caseiro seja melhor que um ovo de aviário de galinhas criadas em gaiolas, quer nas suas características, quer no que respeita à vida das galinhas. Todavia, nada me garante que aqueles ovos caseiros não sejam de galinhas criadas em gaiolas que só comem farinha de engorda e tomam antibióticos.
 

E nisto, tenho uma história para contar, a qual não tem que ver com galinhas, é uma história que me foi contada, por isso é uma história em 2ª mão (reutilizar histórias é ecológico). Há uns anos, uma colega de trabalho contou-me que tinha feito um trabalho sobre a contaminação de solos em áreas adjacentes à Siderurgia Nacional. Devido à elevada contaminação dos solos andaram a bater de porta em porta a dizer às pessoas que não deviam comer os legumes que tinham nas suas hortas, pois aqueles solos estavam altamente contaminados. Um senhor disse que não havia problema, uma vez que a maioria das coisas não era ele que comia, costumava ir vender para o mercado local. E aqui está uma simples história.

Quem comprava, provavelmente, achava que eram legumes muito saudáveis de pequenos produtores (atenção, eu adoro a ideia de pequenos produtores e de agricultura de subsistência), no entanto, a qualidade não era certamente a esperada. O que eu quero dizer com isto é simples, atenção, ser caseiro não é ser biológico, em princípio ser caseiro é mais saudável e sustentável que ser industrial, mas nada nos garante que realmente seja. Por isso, quem vende caseiro deve usar o termo correcto e quem compra produtos caseiros deve saber que ser caseiro não é garantia de nada.

4 comentários:

  1. Concordo. Os meus pais têm campo e animais. sei que por vezes utilizam ração, mas só em períodos específicos (por exemplo, quando os pintainhos são bebes) e nunca em exclusividade. as galinhas estao num espaço alargado, mas não tenho o alimento suficiente, é la colocado o milho e os legumes da Horta. As ovelhas andam exclusivamente nos campos.Eu moro em apartamento e guardo tudo o que é restos e levo também para os animais.
    Mas conheço de perto quem use ração para todos os tipos de animais e é o seu principal alimento. As galinhas estão num espaço tão pequeno, que uma vez vi a colocadas ao ar livre e Parecia que nem sabiam andar. As culturas sao carregadas de adubos e herbicidas sao de uso comum. ��E eles consideram que é tudo caseirinho e Eu não tenho à vontade para os "contrariar e elucidar"

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    1. Obrigada pelo comentário. São mesmo esses casos Carla, as pessoas acham mesmo que estão a fazer bem :/

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    2. Ola. Sei que este comentario ao post ja vem tarde mas este é um.pensamento q me assalta tbem... Ha uns anos fiz uma formacao na lipor, e eles alertaram todos os formandos e futuros formadores precisamente para isso. Primeiro que ha terras bastante contaminadas,como era o caso da Povoa do Varzim, mas no entanto, pelo menos aqui no norte, quase toda a gente acha q sendo da povoa é q é bom, saboroso e costumam ser grandes ( va-se lá saber porque) e tambem chamaram a atencao para os pequenos produtores porque? Porque a maior parte deles usa fito-farmaceuticos. E os fito-farmaceuticos estao feitos e doseados para serem aplicados em hectares de terras, atraves de metodos proprios. O pequeno produtor poe a olho no balde,edespeja por cima de meia duzia de plantas q a seguir vai comer ou vender no mercado... Todas contaminadas...

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    3. Obrigada pelo comentário Purpaixão. Realmente era importante que as pessoas começassem a perceber estas realidades, mas parece que ainda é difícil compreenderem. Relativamente aos fito-farmaceuticos actualmente só quem tem a formação pode aplicar e comprar os produtos, no entanto ter frequentado a formação não quer dizer grande coisa. A maioria dos pequenos agricultores que conheço que frequentaram a formação, nem sequer chegaram a perceber a pertinência da formação. Quem vê se realmente aplicam o que supostamente aprenderam?

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