segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Demasiado adultos ou demasiado infantis?

Há uns meses fiz uma publicação intitulada Crianças... que futuro? Tecnologia ou natureza, na qual refiro a minha preocupação relativamente às crianças actuais estarem cada vez mais afastadas da natureza e da vida real. Parece que as crianças crescem dentro de um mundo virtual.

Este ano no Natal decidi oferecer à minha sobrinha que tem oito anos um livro e um dinossauro para montar. O livro que escolhi foi o "Meu Pé de Laranja Lima" de José Mauro de Vasconcelos que "retrata a história de um menino de cinco anos chamado Zezé, que pertencia a uma família muito pobre e muito numerosa. Zezé tinha muitos irmãos, a sua mãe trabalhava numa fábrica, o pai estava desempregado, e como tal passavam por muitas dificuldades, pelo que eram as irmãs mais velhas que tomavam conta dos mais novos, por sua vez, Zezé tomava conta do seu irmãozinho mais novo, Luiz." in https://pt.wikipedia.org/wiki/Meu_P%C3%A9_de_Laranja_Lima. 

Imagem retirada de http://www.ch.ufcg.edu.br/petletras/index.php/resenhas/resenhas/76-resenha-jtorquato
Decidi oferecer-lhe este livro porque também o li quando era pequena e marcou-me imenso. Na altura lembro-me de chorar baba e ranho e pensar como a vida era difícil para algumas pessoas. Ainda estive indecisa entre oferecer-lhe este e "O Mundo em que vivi" da Ilse Losa, mas que achei que era um bocado pesado para uma criança de oito anos, embora eu também o tenha lido nessa altura e também tenha chorado assim de forma torrencial.

Mas fiquei mesmo contente com as prendas que escolhi, o livro para desenvolver a parte humana, o dinossauro para desenvolver a parte científica. Achei que eram presentes ideais para uma criança de oito anos. Mas bem, talvez posteriormente ela até tenha gostado, mas quando desembrulhou senti no seu rosto uma grande desilusão, o que me fez ficar a mim desiludida também. Por seu lado, adorou a prenda que o avô lhe deu, dinheiro, coisa que eu não gosto que se dê às crianças. Para mim dar dinheiro é uma não-prenda, mas pronto isso sou eu.

Mas a minha sobrinha adorou receber dinheiro porque quer um Iphone e quer juntar dinheiro para o comprar. E é aí que eu me sinto completamente ultrapassada. Para que raio uma criança de oito anos que já tem um smartphone quer um iphone? Não consigo atingir. A única resposta que me surge na cabeça é estatuto social, o que me dá que pensar que é estranho na escola primária (aí como sou velha a usar este termo) já pensarem no estatuto social mesmo que de forma inconsciente. Mas não vejo outra explicação para a sua loucura pelo iphone. Bem talvez porque eu não sei a diferença entre um iphone e qualquer outro smartphone, quer dizer sei que o sistema operativo é diferente, e daí?

Mas o que vejo é uma vontade imensa das crianças serem adultas, vestirem-se como adultos, utilizarem os acessórios e produtos dos adultos. Será que as crianças não percebem que devem brincar. Quando eu tinha oito anos, em 1994, eu queria brincar, ler, eu queria ser criança e até sempre fui uma criança bem adulta no que respeita a maturidade, mas eu não queria ter uma vida de adulto. Aliás, eu nunca quis ter uma vida de pessoa mais velha do que aquilo que era. Talvez porque li o "Meu pé de laranja lima" e sabia que os adultos tinham vidas complicadas.

Há uns tempos lembro-me de andar numa formação e a formadora contar-nos que tinha ouvido duas meninas com cerca de dez anos a falarem sobre qual tinha o melhor alisador de cabelo. Que crianças estranhas.

Nisto tudo, eu não acho que se deva infantilizar as crianças, antes pelo contrário, acho que lhes devemos dar consciência do mundo em que vivem e deixar fazer coisas de adultos. Mas também devem ser crianças, aliás antes de tudo devem ser crianças. Devem ser crianças com noção do mundo à sua volta, mas do mundo real. Mas a ideia que eu tenho é que cada vez queremos crianças que crescem mais depressa, crianças vestidas de acordo com a moda que usam toda a tecnologia, mas que não sabem como cresce uma flor, onde correm os rios. Não sabem as histórias dos seus antepassados, no fundo não sabem o que é o mundo. Crescem depressa demais numas coisas e noutras demasiado devagar.

Diria que são pequenos adultos demasiado infantis.

Imagem retirada de https://www.facebook.com/565524310182468/photos/a.912477722153790.1073741871.565524310182468/921392474595648/?type=3&theater

1 comentário:

  1. Tão verdade e tão triste! Faz-me imensa confusão que, ao mesmo tempo que as crianças estejam a crescer demasiado depressa para algumas coisas, estejam cada vez menos autonomos e responsáveis noutras... Faz falta a natureza, brincar na rua, sujar-se, sentir a passagem das estações!

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