sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A OMS, a carne e o cancro

A semana passada instalou-se o pânico na comunicação social. Para variar as notícias são sempre dadas como se de repente tivesse começado a terceira guerra mundial. Aliás, eu já tinha lido a notícia, sobre a qual pensei "Grande novidade, não haja dúvida" e qual não foi o meu espanto quando foi notícia de abertura do telejornal.

A verdade é que a OMS depois de diversos estudos refere que o consumo de carne processada, bem como carne vermelha em geral, provoca cancro. Bem os meios de comunicação têm utilizado a palavra provoca, mas acho que a expressão mais aconselhada deve ser: aumenta a probabilidade de ter cancro.

Mas a sério que isto é uma novidade? Ok, podíamos não saber exactamente quais as doenças que o consumo de carnes processadas traz. Mas já sabíamos que fazem mal. Primeiro, porque todos os produtos processados são piores para a nossa alimentação do que os produtos mais naturais (frutas e vegetais, por exemplo), segundo porque a quantidade de gordura destes alimentos são enormes, terceiro porque os consumimos em excesso, quarto porque os animais utilizados são normalmente criados à base de uma alimentação com rações de crescimento e hormonas, etc, etc.

Aliás basta-nos olhar para a roda dos alimentos e apreciar que a fatia relativa às carnes e peixes é reduzida.


A nova roda dos alimentos
Imagem retirada de http://www.dgs.pt/promocao-da-saude/educacao-para-a-saude/areas-de-intervencao/alimentacao.aspx

Podem descarregar e consultar o documento da DGS relativo à nova roda dos alimentos neste link. Claro que depois a forma de cozinhar os alimentos também faz com que se devam comer mais ou comer menos, é diferente comer batatas cozidas ou batatas fritas, peixe cozido ou peixe frito. O que tem de ver com a gordura que adicionamos ao produto.

Mas mais uma vez digo que isto não é grande novidade, acho que sempre ouvi falar disto. Agora não é preciso tanto alarme. Não é por consumirmos carne processada que vamos certamente ter cancro, mas o consumo exagerado aumentará a probabilidade de o termos. E aí tem de entrar o nosso bom senso, se nem gostamos muito, acho que nem vale a pena comer, por exemplo eu não como fiambre e presunto, posso comer muito, muito eventualmente, mas não aprecio. Agora se gostamos, podemos comer de vez em quando. Mas claro, não devemos fazer diariamente salsichas só porque é rápido. 

Mas também, aquelas histórias que oiço como "ah podemos comer tudo, quem tiver de ter vai ter, olha o fulano sempre teve uma vida saudável e morreu novo e o beltrano sempre fez o que quis e viveu até os 80 e tal anos". Pois, estas histórias não são bem assim.

E aqui posso contar a história da minha mãe que morreu com 53 anos de cancro do pâncreas. Toda a gente me diz que era uma pessoa tão saudável e morreu tão nova? Será que era tão saudável assim? Ou as pessoas é que não têm noção do que é ser saudável?

Primeiramente, a minha mãe a nível genético já devia ter uma grande tendência para este tipo de doenças, grande parte das pessoas de família também tiveram este tipo de cancro. E com a genética não podemos fazer nada, até podemos ser a pessoa com os hábitos mais saudáveis do mundo, se os nossos genes não colaborarem é complicado.

Depois é verdade que a minha mãe não bebia álcool nem nunca fumou. Mas em contrapartida, durante mais de vinte anos trabalhou num café, ambiente fechado, onde todos os dias imensas pessoas fumavam. E enquanto elas saiam e entravam, a minha mãe permanecia naquele ambiente.

Depois comia muita fruta e legumes, sim, mas grande parte dos dias à hora do almoço comia o que havia no café. Quando não sobrava nada, a solução era comer um bife ou bifana com batatas fritas. Quantas batatas fritas naqueles óleos usados mais que uma vez ela consumiu na vida? Não sei, mas muitas.

Além disto, como trabalhava imenso, descansava pouco, o descanso também é essencial para nós. O ser humano tem de descansar, não somos eternos, por isso acredito que devemos ter uma vida muito mais lenta e sem stress, mesmo que isso nem sempre seja fácil.

Outra coisa, quando lhe doía a cabeça tomava um Dolviran, afinal tinha de lhe passar rápido aquela dor. Esta é outra coisa que sou completamente contra, tomar comprimidos assim que nos dói qualquer coisa. Os comprimidos são drogas e devem ser tomados em caso de grande necessidade, normalmente por isso são prescritos, os que não necessitam de prescrição devemos tomar com conta peso e medida. Para mim isso significa, só tomar quando não conseguimos mesmo aguentar a dor.

De qualquer forma ter uma vida mais calma e uma alimentação melhor ajuda a não termos tanto dores.

O que eu quero dizer em relação à minha mãe é que para a generalidade das pessoas ela tinha uma vida e alimentação saudável. Mas não tinha. A nossa consciência sobre o que é ser saudável é que está meio deturpada. Por isso quando me dizem que determinada pessoa sempre foi saudável, será que era assim tanto?

E com isto, nem estou a dizer que faço uma alimentação extraordinariamente saudável. Apenas digo que devemos ter consciência daquilo que de facto fazemos e do que devíamos fazer. Agora claro, há pessoas que fumam a vida inteira e os pulmões estão impecáveis e outras que nunca fumaram e têm cancro do pulmão. Mas como se sabe, não são só os nossos hábitos alimentares e a nossa genética que contam. Existem outras fontes às quais estamos expostos, poluição, gases, certos tipos de trabalho, por exemplo o trabalho em minas. Tudo isto é demasiado complexo para podermos avaliar porque determinada pessoa tem ou não tem a doença. Mas se as quisermos evitar devemos sim, ter atenção ao que comemos e ao que nos expomos.

Neste caso das carnes processadas ou alimentos processados em geral também devemos evitá-los, mas não entrar em alarmismo. Se gostamos realmente muito, porque havemos de os cortar de todo? A comunicação social devia informar pela positiva e não criar pânico.

A nível ambiental e de resíduos, claro que a diminuição do consumo de carnes processadas e de alimentos processados é bastante positivo. Reduzimos na quantidade de energia, transportes e embalagens utilizados o que traz grandes vantagens.

Comer alimentos mais naturais como as frutas e os legumes é ser mais saudável e mais sustentável.

Como já referi noutras postagens, Animais - o caso das galinhas e Alimentação - o meu calcanhar de Aquiles, nem sempre faço a alimentação mais saudável possível, mas tenho consciência do que faço. Em contrapartida, já referi na publicação Fruta como adoro este alimento o que me permite compensar bastante a minha alimentação. Mas mais uma vez, no que se relaciona com o cancro não é só aquilo que comemos que nos faz mal, há outras coisas a ter em conta como os Produtos de higiene e cosmética, bem como os de limpeza, dos quais ainda não falei.

O que devemos ter sempre em mente é que quanto mais naturais forem as nossas escolhas, mais saudáveis e sustentáveis seremos. Acho que é uma boa ideia.

Agora claro, não nos podemos esquecer que temos de morrer algum dia, é impossível evitarmos eternamente todas as doenças. No meu entender e como gostaria de viver muitos anos, porque gosto realmente de viver e tenho receio que estes genes herdados sejam marotos, acho que devo tentar ser mais saudável. No entanto, acho que não posso passar a vida alarmada com essa ideia, é ir vivendo e diariamente fazer as minhas escolhas.


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