sábado, 7 de novembro de 2015

Quando não se acredita na sociedade, qual a solução?

Andava eu aqui a viajar pela internet quando encontrei esta publicação Os meus heróis têm a roupa remendada e não usam papel higiénico. Claro que me chamou logo a atenção, sobretudo a parte do papel higiénico, por causa do que já falei há umas postagens atrás. Nesta publicação, Eunice Neves que tem o blogue Permaculture Research Tour Blog conta como foi viver durante dez semanas com Su Dennett e David Holmgren (co-criador do conceito de Permacultura) na sua quinta (Melliodora) na Australia. Leiam vale mesmo a pena.

A sério, fiquei encantada, é realmente preciso ser bastante diferente e corajoso para decidirmos ter uma vida assim. Contra tudo aquilo que é estipulado socialmente como certo e que mais nos faz feliz. Decidirmos criar o nosso próprio estilo de vida, mesmo que este seja divergente do que a sociedade decidiu que era o melhor. Quando vejo estes exemplos, penso que também gostaria de ser assim, não sei se no fundo gostaria totalmente de ser assim, mas cada vez me fascina mais a ideia de romper com todas as normas que nos são impostas enquanto sociedade capitalista e de consumo. Certamente, não precisamos chegar a níveis tão elevados de renúncia à vida capitalista, mas fascina-me mesmo.

Nisto, lembrei-me desta história que não tem nada a ver, mas que se relaciona com a renúncia de que falo. Já é uma notícia antiga, mas nunca mais me esqueci Javi Poves, o futebolista anti-sistema, está de volta aos relvados. Um jogador de futebol que deixou uma potencial vida de estrela porque quis renunciar a uma vida que considera, tanto no futebol como na sociedade em geral, que apenas o dinheiro interessa. Claro que aquilo que eu considero algo de bastante valor, a renuncia por um ideal, é visto por muitos como pancada. Quem tem mais pancada afinal? Que renuncia por um ideal ou quem acredita que a sociedade está certa só porque sim e não pode ser melhor?

A primeira vez que conheci pessoalmente pessoas que viviam foram da sociedade foi há onze anos atrás, tinha dezoito anos na altura. Diga-se passagem que foram as primeiras e únicas pessoas que conheci com um estilo de vida mesmo totalmente divergente da sociedade. Na altura, eu estava a passar férias com três amigas numa aldeia portuguesa, umas férias numa casa sem água e onde tínhamos todo o tempo do mundo e só nos deslocávamos a pé, uma férias muito anti-sistema também (tínhamos telemóvel, mas naquele tempo ninguém estava sempre online). Acho que aprendi muito sobre a vida e sobre mim nessa viagem, acho que foi nesses dias que limei várias coisas e me tornei no que sou hoje. Não totalmente, porque a mudança é constante, mas em parte foi nessas férias.

Mas voltando ao encontro com essas pessoas "diferentes", estávamos as quatro numa praia fluvial e ao fundo estava um grupo de pessoas de várias idades, mas eram pessoas diferentes. Sim, eles pareciam hippies. E ainda me lembro, todos pareciam estar numa harmonia incrível, uns com os outros e com o mundo. No grupo estava um rapaz com um bebé de semanas ao colo, numa das cenas de amor mais lindas que já vi, uma verdadeira ode ao amor paternal. Nós como éramos curiosas fomos ter com eles e perguntamos descaradamente se eles eram hippies. Coitados, engoliram em seco e nem disseram nada no momento, apenas que já vinham falar connosco. E vieram e explicaram-nos que não eram hippies, tinham um estilo de vida alternativo, moravam no meio da serra e sem grande relação com a civilização e convidaram-nos a ir a casa deles dali a uns dias.

E lá fomos nós, conhecemos a casa deles, explicaram-nos que eram praticamente auto-suficientes em alimentação, o que não tinha trocavam com outras pessoas mais velhas que ainda moram nestas aldeias. Faziam a sua roupa, o seu pão semanalmente como antigamente. Não utilizavam praticamente electrodomésticos, embora tivessem computador e mais uma ou duas máquinas. Vivam assim, todavia deixavam que os filhos conhecessem a sociedade exterior, um dia haviam de escolher se queriam aquela vida no meio da serra ou outra vida mais integrada na sociedade. Esse dia já deve ter chegado e eles já devem ter escolhido, o quê não sei... Mas sei que adorei conhecê-los e ao longo destes anos, muitas, mas muitas vezes pensei neles.

A escolha de renunciar à sociedade ou viver na sociedade com os nossos ideais é nossa, sempre. Apenas não temos de seguir sempre o caminho que alguém acredita que é o certo. O caminho certo é aquele que nos faz feliz... Se os nossos ideais são diferentes daquilo que a sociedade em geral pensa, temos de seguir os nossos. Criam-nos a ideia que só conseguimos ser felizes no capitalismo e consumo selvagem, mas isso não tem de ser verdade. Aliás, quase nunca é, alguém pode ser feliz se a sua meta for o consumo, quando não tem rendimentos suficientes para esse consumo?

Como diz a música "Reduz as necessidade se queres passar bem".

Se a nossa ideologia, crença, utopia passa por um mundo mais sustentável, por uma vida mais saudável, por um sistema mais igualitário... isso é possível, pode não o ser para o mundo inteiro, podemos nunca ver o mundo assim... mas podemos fazer com que a nossa vida seja assim, pelo menos um bocadinho mais assim...

De novo, voltando ao início desta publicação fica aqui a citação que acho que diz muito "A melhor forma de mudarmos o mundo é mudarmos a forma como vivemos no dia a dia. Uma economia doméstica forte, que nos permite ser mais autónomos e responsáveis pelas nossas necessidades básicas é, segundo o David, um dos mais poderosos actos políticos que temos em mãos." (in http://preguicamagazine.com/2015/10/28/os-meus-herois-tem-a-roupa-remendada-e-nao-usam-papel-higienico/).

Afinal, nós não somos espectadores do mundo, somos actores, diariamente.

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