sábado, 15 de agosto de 2015

Roupa - Made in qualquer coisa



Quando tinha uns 15 anos decidi não comprar nada que fosse Made in China, isto por causa da ocupação do Tibete pela China... bem quase 50 anos depois da ocupação tive esta ideia, talvez não tivesse grande lógica, mas bem se eu ia comprar roupa e era Made in China não comprava até que passado uns anos, deixei-me disso.




Se for a ver bem, naquela fase entre os 17 e os 22 anos, comprei muita roupa, um verdadeiro exagero, sobretudo porque nunca tive oscilações de peso, logo raramente algo me deixava de servir. Além disso, já tinha a ideia que não devia deitar nada fora, sobretudo em bom estado, logo ia acumulando, acumulando até porque a minha ideia de moda não existe. Eu sei o que gosto e o que não gosto, uso o que gosto, mas não sei o que está na moda, nem me interessa muito.Se eu gosto, uso, posso mudar de gosto, mas é raro. O melhor de ter comprado bastante roupa naquele período foi depois ter passado uns quantos anos com poucas compras têxteis. Até porque foi quando comecei a ter a maior consciência das minhas compras de roupa e o impacte delas sobre o ambiente e das suas implicações sociais nos países onde são fabricadas.




Mesmo antes da minha consciência plena, comprava muita roupa fabricada em Portugal, o que me deixava plenamente feliz. Afinal estava a contribuir para a economia local. Todavia, as marcas portuguesas onde eu comprava a tal roupa feita por cá passaram a ter cada vez menos artigos feitos em solo nacional. Mesmo o grupo Inditex que tinha bastante roupa feita em Portugal começou a ter cada vez menos, embora ainda se encontre.




Assim com o avançar da minha consciência ambiental comecei a ter diversos pensamentos:



Se tenho tanta roupa tem lógica continuar a comprar mais? Para quê? Qual a finalidade deste consumo excessivo? Moda? Eu não me interesso muito pela moda;
Onde é feita esta roupa? Na China, no Bangladesh, entre outros. Quantas pessoas são exploradas? Vivem em condições indignas, com o único fim de nós ocidentais comprarmos roupa barata;
A quantidade de energia despendida em transportes para que esta roupa chegue até nós. A quantidade de matérias utilizadas apenas para embalar os produtos, ou seja, a quantidade de resíduos que umas simples cuecas geram até começarem a ser usadas;
A inexistência ou falta de cumprimento da legislação ambiental na maior parte dos países onde os produtos são feitos (e sim, não falamos só de roupa).




















Logo o ideal será comprar roupa fabricada em Portugal, ou na Europa em geral (maior legislação ambiental, maior legislação em questões de trabalho, maior proximidade, logo menos deslocações). Ao comprarmos roupa feita em Portugal estamos ainda a dinamizar a nossa economia e a criar condições para manter mais postos de emprego, o que me parece algo bastante positivo.






Mas normalmente onde encontramos a roupa feita por cá? No comércio tradicional e em feiras de rua ou em algumas lojas de centro comercial, mas não na grande maioria. Como fui habituada a comprar roupa em grandes superfícies devo dizer que não tenho muita facilidade em entrar em comércio tradicional para experimentar roupa, nas feiras e com a confusão também não. Então, normalmente vou às grandes superfícies e geralmente as peças feitas em Portugal ou na Europa são de marcas mais caras, quer dizer nem sempre. Mas é um facto que pesa cada vez mais na minha carteira, e se em tempo normal sou capaz de dar mais dinheiro por uma peça por ter sido feita em Portugal, actualmente que estou grávida custa-me porque sei que a vou usar pouco tempo. Mas mesmo assim no tempo normal decidi não barrar simplesmente a entrada de roupa feita em terras distantes. A minha solução é antes de tudo, comprar cada vez menos, comprar o mínimo possível. Lá está a primeira medida essencial, REDUZIR. Depois sim ter cuidado com o que compro, ter sempre atenção à etiqueta, onde a peça foi fabricada e qual a origem dos tecidos. E depois é um bocado uma decisão mais instantânea, há dias que sou mais seduzida pelo consumismo que outros.






Uma das melhores forma de reduzir é nem sequer ir às lojas, a não ser que se precise, o que devo confessar que é bastante fácil, já não tenho qualquer paciência para andar a ver montanhas de roupa. Normalmente vou com um objectivo específico, selecciono as lojas à partida e apenas fico por essa parte infinita que existe.

Mas existe ainda a questão das matérias-primas, actualmente muitas lojas lançaram campanhas de roupa consciente em algodão orgânico. O que me parece muito bom, afinal estamos a comprar algo feito com uma matéria-prima que foi cultivada tendo em atenção questões ambientais. Mas se repararem esta roupa é quase sempre produzida no Bangladesh, ser roupa em algodão orgânico é ecológico, mas ser produzida no Bangladesh é socialmente correcto? Acho que não. E continuamos à mesma com o problema da energia gasta em transportes.

Pergunto então, para o ambiente e a justiça social, será melhor comprar uma camisola produzida em Portugal de algodão ou uma produzida no Bangladesh de algodão orgânico? Tenho dúvida, mas acho que por vias das dúvidas escolhia a feita em Portugal. Mas claro o ideal seria comprar uma produzida em Portugal de algodão orgânico e nunca comprar uma que fosse fabricada no Bangladesh de algodão comum.

Mas depois ainda se levanta outra questão, na Europa não há produção de algodão, logo se virmos bem a maior parte das roupas que usamos são fabricadas em têxteis sintéticos ou têxteis que têm de ser importados. Logo o ideal, sem dúvida seria comprarmos roupas em Portugal (alargando à Europa) feita com recurso a matérias-primas locais: o linho, o cânhamo, a lã.

O canhâmo é sem dúvida o que mais me fascina, super resistente (muito mais que o algodão) seria óptimo para que a roupa durasse ainda mais. Em tempos tive uma mochila de cânhamo e adorava-a, foi usada até ficar velha, bem rota mesmo. Devido ao consumo de drogas, as plantações de cânhamo foram ilegalizadas em Portugal, em 1971, só mais tarde voltando a ser permitidas. Acho que era algo em que se podia, devia, apostar. Afinal não é só na indústria têxtil que o canhâmo é uma boa matéria-prima.

Enquanto não posso ter o guarda-vestidos cheios de roupa de cânhamo, fico-me pelo conselho principal REDUZIR ao máximo o consumo deste tipo de produtos, ser consciente na altura da compra e tentar não cair muito na tentação. Além disso, é importante tratar bem a roupa para que ela dure mais tempo, nada de lavagens a 60ºgraus, deixem viver as bactérias.

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