sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Caminante, no hay caminho

Agora que sou adulta e olho para trás vejo o que eu mais gostava nos escuteiros: caminhar, andar, andar, andar. Sempre gostei de andar, quando era pequena e ia para a praia, eu queria era andar, andar, andar. Já contei aqui no blogue que comecei a fazer as minhas grandes caminhadas no dia a seguir de saber que estava grávida. O que significa que comecei e acabei, porque a gravidez e caminhadas de quilómetros não são muito fáceis de conciliar, nem caminhadas e bebés.

No entanto, quero partilhar convosco, não caminhadas que fiz, mas caminhadas que quero fazer. A verdade é que estas férias que estão agora a acabar fui a Santiago de Compostela e ao Cabo Finisterra e fiquei fascinada.

Santiago de Compostela é um dos mais famosos destinos de peregrinação cristã, segundo percebi a peregrinação acaba com a chegada à catedral de Santiago de Compostela, mais precisa com a visita ao túmulo de Santiago, um dos apóstolos de Jesus. Quem me conhece, sabe, que a fé cristã (católica em particular) é algo que me deixou de acompanhar há muitos anos. Na realidade, apenas acredito na natureza e na sua força, o que me leva a crer que devemos adorar os elementos da natureza e não qualquer Deus criado à nossa semelhança. E é aqui que entra o meu fascínio. No fundo, o meu grande objectivo não era ir a Santiago de Compostela (mas gostei muito na mesma), o meu objectivo era ir ao Cabo Finisterra (ou Fisterra em galego).

No tempo dos romanos, acreditava-se que este cabo era o ponto mais ocidental (do mundo conhecido na altura, parece que não conheciam o nosso Cabo da Roca ou então não percebiam muito de longitudes, não devem ter feito a maravilhosa cadeira de Cartografia I), por esse motivo chama-se Finisterra, ou seja, o fim da terra. Este cabo, que dista cerca de 90 km de Santiago de Compostela, é para muitos peregrinos a última etapa da peregrinação, recuperando assim uma antiga tradição celta de culto a Ara Solis (culto em honra do Sol).

Para mim, pessoalmente, faz-me muito mais sentido caminhar para ir adorar o Sol do que para adorar Santiago. Mas acho que caminhar para adorar seja o que for, é mais um processo interno de procura e conhecimento de nós próprios do que outra coisa. Caminhar é um acto de encontro espiritual. Talvez, por isso, encontrei nos peregrinos que vi, uma enorme paz interior (o que sinceramente não costumo ver nas peregrinações a Fátima). Uma paz, um despojamento, uma alegria, um encontrar o caminho. Não o caminho físico, não o caminho da estrada, mas o seu caminho pessoal.

Eu também quero conhecer esta sensação, espero um dia fazer este caminho, ir de Santiago de Compostela a pé até ao Cabo Finisterra, adorar o Sol, as árvores, as pedras, o mar, a natureza e sentir-me mais confortada espiritualmente. Cada um pode encontrar na peregrinação e nas caminhadas as suas respostas, umas mais próximas das religiões existentes, outras mais relacionadas com a natureza, mas o que no fundo importa é encontrarmos a nós mesmos e encontrarmos as nossas respostas. A caminhada e a contemplação da natureza são a forma mais fácil de o fazer, pelo menos é o que penso.

Um poema do espanhol António Machado (ver completo aqui)

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar


Por acaso gosto mais da versão original

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

E é mesmo esta a perspectiva, a questão não é o caminho físico, mas é ao caminhar que encontramos o nosso ser, é uma busca espiritual. Caminhar é um encontro connosco, é esquecer o mundo, com o único objectivo de andar e de descobrir um novo mundo invisível aos outros, o nosso mundo interior.


O Cabo Finisterra
Imagem própria

O grande motivo pelo qual não pode fazer neste momento da minha vida o caminho a pé, mas espero conseguir passar-lhe o gosto pelo caminhar.

Eu e o meu bebé no km 0 dos caminhos de Santiago
Imagem própria

E como não poderia deixar de ser. O que há no cabo Finisterra? Isso mesmo, contentores decentes de reciclagem, na questão do lixo, a Galiza tem nota máxima, tudo limpo, imensos caixotes de reciclagem, uma verdadeira alegria para os meus olhos.

Imagem própria

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