segunda-feira, 25 de julho de 2016

Paradigma - O crescimento económico

Hoje vou voltar a um assunto que já tentei abordar aqui no blogue. Nomeadamente, nas publicações 100ª publicação - balanço e Quando não se acredita na sociedade, qual a solução? 

As minhas dúvidas continuam a ser as mesmas. Basicamente, "Qual a razão para as pessoas aceitarem tão facilmente as regras da sociedade?",  "Qual o motivo para acharmos que este sistema é o certo?". No mundo ocidental, é fácil acharmos isso, afinal nunca os nossos antepassados viveram com tantos bens materiais como nós. A grande maioria deles além da escassez material, nem sequer tinham as necessidades básicas satisfeitas. Todavia, o mundo não se cinge apenas ao mundo ocidental. Nos restantes países, as pessoas sofrem o pior do capitalismo, o pior do sistema. Mas eu acho que no mundo ocidental também sofremos de outra forma, as pessoas matam-se a trabalhar para ganharem dinheiro para o gastarem, ganham dinheiro com o objectivo de consumirem. O consumo dá estatuto, mas acima de tudo dá dinheiro aos grandes empresários. Pergunto-me muitas vezes, se no fundo, as pessoas têm tanto prazer nos bens materiais para trabalharem horas a fio para comprarem certas coisas. Trabalharem um vida inteira, prisioneiras do sistema. Mas, o que é estranho não é as pessoas acharem que isso é a solução para todos os seus problemas, o que é estranho é as pessoas não se questionarem sobre isso. Eu questiono-me porque não sei se isso é a felicidade, tenho muitas dúvidas que seja.

Há uns tempos, uma amiga dizia-me que a nossa geração não tem a sorte da geração dos nossos pais, os quais viram as suas condições de vida melhorar bastante, nós não vamos ver as nossas condições de vida melhorar à mesma velocidade. Epá! Ainda bem! A verdade é que os nossos pais (nascidos na década de 1950 em Portugal) viveram uma pobreza extrema, onde não tinham comida, água potável, electricidade, a escolaridade era reduzida e os cuidados de saúde quase inexistentes. Todavia, a minha geração (nascida nos anos de 1980) não passou por esta escassez, mesmo quem viveu pior, já tinha um mínimo mais aceitável. No fundo, nós começamos a nossa vida num patamar muito mais alto que o dos nossos pais, se o nosso nível de vida (o que quer que isso seja) aumentasse à velocidade que aumentou o deles, acho que o mundo já tinha colapsado. Se calhar está quase.

A questão principal é que os recursos não são inesgotáveis, em 2015, no dia 13 de Agosto já tinhamos consumido todos os recursos que o planeta consegue repôr num ano (A partir de amanhã começamos a viver acima das possibilidades da terra), o que significa que no ano passado quatro meses e meio foram vividos usando as reservas acumuladas anteriormente. Todos os anos, isso acontece mais cedo.

Então se os recursos se esgotam, não tem muita lógica continuarmos a achar que viver bem tem de ter implícito um crescimento económico constante. Afinal, esse crescimento económico só é possível se usarmos cada vez mais recursos. Mas, no nosso sistema, é o crescimento económico que mede se um país está bem ou se está mal e as pessoas parecem concordar que apenas o crescimento sem fim é a forma de ter qualidade de vida. Esta ideia está tão enraizada que é o paradigma que define o nosso mundo, nem sequer o questionamos, pois acreditamos nele como verdade absoluta.

No sistema/paradigma que vivemos parece que o nosso sucesso é definido pelos outros. Se é um gestor renomeado e bem assalariado tem sucesso e que mais pode ele querer na vida. Se é varredor de lixo, não venceu na vida. E se calhar o segundo é mais feliz que o primeiro, o sucesso no fundo devia ser medido pelo nosso sentimento sobre a nossa vida e não pelo que é estipulado pela sociedade.
Imagem retirada de http://eusouapolitica.no.comunidades.net/capitalismo-o-antagonista-do-planeta


Imagem retirada de http://legio-victrix.blogspot.pt/2012/02/escravidao-do-consumo.html

"Que se passa? Porque é que há tão poucas pessoas dispostas a contestar, ou mesmo discutir com espírito crítico, um modelo económico que, nitidamente não está a ser bom para o planeta e para a maioria da sua população? Creio que uma razão é o facto de o modelo económico ser praticamente invisível aos nossos olhos." (Annie Leonard in A História das Coisas)

"Se a sua estrutura diz que o crescimento económico é a chave para acabar com a pobreza e proporcionar felicidade, então irá proteger o crescimento a todo o custo, mesmo quando este torna muitas pessoas mais pobres e menos felizes." (Annie Leonard in A História das Coisas).

Na realidade e já não estando a considerar as pessoas que vivem na pobreza absoluta, mesmo considerando um europeu médio que vive uma vida aceitável, se pensarmos bem, o que ele trabalha é para lhe garantir um melhor nível de vida, mas é sobretudo para enriquecer milionários (só eu é que penso isto?). Enriquecemos milionários quando trabalhamos para eles e quando consumimos os produtos que eles vendem. (Já dizia Almeida Garrett).

No entanto, existe algo contraditório em mim. Quando abri a loja, mais que uma vez, disseram-me qualquer coisa do género "Agora és capitalista, já deixaste de ser comunista?". Embora, eu não seja capitalista, o capital é coisa que não abunda por aqui, percebo o que queriam dizer. Todavia, acho que uma das formas mais fáceis de não estarmos completamente dependentes do sistema é termos um negócio próprio (ou seja alimentamos o sistema). No fundo, é uma forma de transição para não nos tornarmos dependentes das regras dos patrões, mas continuo a bem ou a mal a alimentar a acumulação de riqueza de alguns, em detrimento dos outros. Logo não sei bem, mas sei que ser pequeno empresário no nosso país está mais ao nível de ser um louco anti-sistema do que de ser alguém que quer alimentar o sistema constantemente. Não sei se me faço entender, eu própria não entendo bem o que penso, logo não posso explicar.




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