segunda-feira, 4 de abril de 2016

Nem todo o plástico foi feito para ser descartável: antiga República Democrática Alemã

Não sei se já alguma vez escrevi sobre isto, mas eu tenho um certo fascínio histórico pelas antigas ditaduras socialistas dos países do leste europeu. E para que não se criem confusões, eu não sou a favor desses regimes, pelo contrário, mas tenho um interesse profundo sobre eles. A maior parte das pessoas a quem digo que tenho um interesse histórico sobre estes regimes, o que percebe é que eu sou a favor deles.

Mas para que entendam que isso não é verdade, o meu filme preferido é o Goodbye Lenin, o meu livro favorito é a Insustentável Leveza do Ser, em ambos se retrata bem os problemas dos regimes socialistas do leste europeu. Além disso, outro dos meus livros preferidos é o Animal Farm que metaforicamente explica bem a revolução soviética e a forma como ficou estratificada socialmente a antiga URSS.

E o que é que isto tem que ver com plástico? Nada, mas quis contextualizar para ninguém comentar coisas como "Estaline mandou matar milhares de pessoas", eu sei disso e ter fascínio histórico, não é concordar com ditadores, mas também não significa que eu não saiba que na DDR (Deutsche Demokratische Republik) ou em português RDA (República Democrática Alemã) o plástico tinha como objectivo durar e durar.

Plástico para durar em forma de galinha, claro que a marca tinha de se chamar Sonja
Imagem retirada de http://www.ebay.de/sch/sis.html?_nkw=6+Stueck+Sonja+Eierbecher+im+original+Karton+DDR+Kult+Huehner+Karton+Lagerspuren&_itemId=172011991664&_trksid=p2047675.m4096



Mas vamos lá contar a história do plástico da RDA (baseado nesta fonte). Em 1958, no 5º Congresso da República Democrática Alemã decidiu-se que a sociedade e economia alemã de leste devia ser tecnologicamente avançada e baseada no consumidor. Para tal, deviam ser produzidos em massa, bens que eram considerados símbolos de boa vida no ocidente. Todavia, a RDA, tal como outros países socialistas não conseguia importar matérias-primas naturais para a produção desses bens. A solução passou, portanto, por produzir tudo em plástico, vendendo-se a ideia que os produtos neste material eram muito mais vantajosos. Por exemplo, um tampo de mesa de plástico era muito mais fácil de limpar que um de madeira, além disso as roupas de poliéster que eram mais fáceis de manter do que as de fibras naturais.

"A great deal of excitement was generated among ordinary East Germans, who moved into mass produced housing blocks, ordered mass produced furniture made from plastic laminate, and dressed themselves in polyester clothes cut in contemporary 1960’s fashions. Socialism seemed to have harnessed the magic of science – atomic, aerospace, and petrochemical – as its means of bringing about a promised communist utopia that was one part Jules Verne and one part Karl Marx." (in https://www.humboldt-foundation.de/web/newsletter-1-2011-4-en.html)

A sociedade e o regime eram tão "apreciadores" e vinculados aos produtos de plástico que se alguém preferia usar roupa de algodão ou ter móveis de madeira era visto como um cidadão suspeito pela Statsi (a polícia política da Alemanha oriental). [eu estaria desgraçada].

Após a queda do muro de Berlim houve uma certa curiosidade dos alemães ocidentais pela vida na RDA, mas onde eu queria chegar era a este ponto: os alemães orientais perceberam que a sociedade ocidental era uma sociedade onde se "deitava tudo fora", enquanto que na RDA nada se deitava fora, sobretudo se fosse de plástico, este era feito para durar e não para ser descartável:

"However, by the mid 1990s, as part of the phenomenon of Ostalgie (nostalgia for the East) East Germans began to sense that much of the critique of western culture made before 1989 rang true. Plastic goods in East Germany, many began to complain, were made to last; one very rarely threw anything out, especially if it were plastic. Terms such as Wegwerfgesellschaft (throw-away society) began to be revived among former East Germans, and those who had not rid themselves of their plastic chicken egg cups and “Sprelacart” kitchen surfacing clung on to them as one of the places in which the GDR lived on." (in https://www.humboldt-foundation.de/web/newsletter-1-2011-4-en.html)


E assim, se conta a história sobre como o plástico pode ser visto de formas tão diferentes. No fundo, embora eu prefira materiais naturais, vejo as vantagens do plástico para algumas industrias como a automóvel, por exemplo. Acho que na generalidade devíamos tentar ver um plástico como um material durável e não tanto nesta prespectiva descartável.

E já agora, eu também tenho um copo para ovo de plástico em forma de galinha comprei no DDR Museum em Berlim. Se forem a esta interessantíssima cidade não deixem de o conhecer, este e o Mauer Museum. Nestes museus poderão conhecer realmente as incongruências dos regimes ditactoriais de esquerda. Na minha opinião, tão liberais numas coisas e tão limitativos e oprimentes em outras (quase todas, vá).






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