quinta-feira, 12 de novembro de 2015

100ª publicação - balanço

Esta é a minha 100ª publicação, o que significa exactamente que escrevo neste blogue há 100 dias. Um blogue é um sítio onde partilhamos as nossas opiniões sobre determinados assuntos ou mesmo sobre tudo. Partilhamos para os outros lerem, mas acima de tudo acho que as partilhamos connosco mesmo. O que eu quero dizer é que mesmo não tendo muitos leitores, o facto de escrever sobre estes temas tem sido bastante positivo.

Nestes dias, tenho-me apercebido que tenho imensa necessidade de escrever, de tal forma que todos os dias publico algo. Chego a ter mais de 10 mensagens programadas porque vejo sempre coisas que acho interessantes e sobre as quais me apetece escrever. E muitas vezes apetece-me escrever, mas não tenho tempo para escrever assim tanto.

O facto de escrever e depois ler faz-me pensar na mesma informação diversas vezes. Penso quando tenho a ideia, penso quando vou escrever, penso a escrever e depois quando leio. A arte de pensar é talvez a grande mais-valia do ser humano, nós pensamos e só assim conseguimos melhorar.

Ás vezes as pessoas dizem-me que gostam de ver telenovelas e reality shows para se entreterem e não pensarem na vida. Mas haverá algo mais produtivo do que pensarmos na nossa vida? Apenas o pensamento nos faz capaz de diagnosticarmos os problemas e encontrarmos as soluções. Talvez seja por isso que pouco ligo a televisão e quando o faço é para ver coisas que realmente acho que interessam para a minha vida, notícias ou documentários, um ou outro programa que me faça ainda pensar mais e não pensar menos.

Mas afinal o que eu tenho aprendido comigo mesma, com o meu blogue e com as coisas que leio e observo. Tenho sobretudo aprendido a conhecer-me, a traçar os caminhos daquilo que acho que é o mais importante para mim. É como uma fase de auto-conhecimento e introspecção em que o meu ser busca um contacto maior com a natureza e com a essência e os ciclos do mundo.

A compreensão que apenas serei mais feliz num mundo mais natural, mais calmo e mais justo. E que para isso aos poucos terei de me libertar de tudo aquilo que acho que prende actualmente o ser humano. A procura por um mundo mais natural que está incondicionalmente ligada ao desprendimento material.

Isto não significa que eu pense o mesmo daqui a dez anos ou que diga que seja capaz de viver fora da sociedade de consumo. Podemos viver dentro dela, sem necessariamente seguirmos todos os seus passos.

Para ser feliz, acho que tenho de me sentir mais livre... e tenho descoberto que a maior liberdade vem do nosso interior. Só quando somos livres e conseguimos nos afastar dos preconceitos, estereotipos e padrões da sociedade, conseguimos encontrar o nosso verdadeiro eu e aí percebermos qual o nosso caminho.

Infelizmente tenho-me apercebido como é difícil mudar os outros. Coisas simples do dia-a-dia parecem loucuras aos olhos da maioria. As pessoas parecem viver num mundo construído pelo ser humano, sem consciência de que vivemos num mundo onde somos apenas mais uma espécie. Talvez se achem a espécie dominante, mas esquecem-se que a natureza em todo o seu conjunto é mais forte que nós.

Decidi portanto não tentar mudar ninguém, o que não significa que não dê as minhas opiniões, dou. E normalmente a louca sou eu. Quantidade de resíduos feitos diariamente ou trabalhadores escravizados não parecem ser preocupação para a maioria das pessoas. A inteligência do ser humano é algo tão positivo e encantador como desconcertante e alarmante. Parece uma inteligência apenas capaz de melhorar a sua vida pessoal, sem qualquer respeito pelo ambiente, pelas outras espécies e sem respeito sequer pela sua própria espécie. O ser humano a tentar a todo o custo melhorar a sua vida consegue acabar com tudo à sua volta, acabando futuramente com os seus descendentes. E pior de tudo, se é um ser tão inteligente será que ainda não conseguiu perceber isso ou será que já conseguiu?

Mas por isso mesmo, prefiro não tentar mudar por palavras, mas acho que vou conseguindo aos pouco mudar alguma coisa por acções. Bem de vez em quando lá me saem palavras mais azedas.

Mas não me importo de ser louca ou extremista para alguns se essa loucura me faz bem. Prefiro ser anti-sistema do que adepta do sistema, ou ainda pior ser como a maioria das pessoas que conheço que estão contra o sistema, mas acham que é impossível ser de outra forma. Porque acham que antes deste capitalismo descontrolado todos os outros sistemas eram piores, então este é o menos mau. Mas porque não pode existir um novo sistema? Afinal antes do capitalismo ninguém sabia o que o capitalismo era. Antes de existir a ideia de república ou democracia, alguém sabia o que eram? O que eu quero dizer é que não entendo porque nem sequer consideramos a hipótese de existir algo melhor que o sistema actual, talvez algo desconhecido neste momento, mas que pode ser melhor. Pode não ser daqui a dez nem vinte anos, se calhar nem cem, mas o mundo está sempre em mudança constante. E essa mudança depende de nós.

As mesmas pessoas que me dizem constantemente que o mundo evolui e por isso é um disparate eu querer usar fraldas de pano são aquelas que menos me parecem aptas à mudança. O mundo evolui e há evoluções positivas e negativas, todas as evoluções que têm como fim facilitar apenas a vida de alguns seres humanos destruindo toda a natureza à sua volta não me parecem positivas. Se o mundo evolui, nós enquanto seres pensantes temos de ter capacidade para criticar essas evoluções. Não temos de aceitar tudo. Porque nem todas as evoluções são positivas e há mudanças se calhar muito mais essenciais para a continuidade da nossa vida neste planeta.

Se até Junho ou Julho já tínhamos consumido este ano todos os recursos que o planeta consegue repor no espaço de um ano, estamos mal, muito mal. Por enquanto, ainda temos reservas, mas a continuar a esta velocidade deixaremos de ter. Pior ainda é se nos lembrarmos que a percentagem de população que consome a maioria destes recursos é incrivelmente baixa. Não sei dados concretos, mas 90% dos recursos totais serão consumidos porque percentagem total de população mundial? 5%, 10%, 20%, não sei, mas não deve estar longe disso.

Podemos dizer que como todas as espécie lutamos pela nossa sobrevivência, mas possa, afinal para que nos serve a inteligência e o facto de pensarmos? Para pensarmos apenas em bens materiais? Os quais ainda por cima quase nunca nos trazem felicidade.

O que eu acho ainda mais intrigante é pessoas que passam a vida a acreditar que se fossem ricos seriam felizes. O meu pai é muito assim, se ganhasse o EuroMilhões isto, se ganhasse o EuroMilhões aquilo. Já lhe tentei explicar imensas vezes que ser rico não é ser feliz, afinal todo o dinheiro do mundo não traz felicidade. Podem dizer-me que ajuda, talvez, mas mesmo isso tenho cada vez mais dúvidas. Claro que ajudará a alguém que vive numa miséria extrema, mas quando a pessoa já tem uma vida normal não sei se a diferença será assim tão grande. Claro que pode permitir concretizar um ou dois grandes sonhos, mas a felicidade não são momentos isolados, a felicidade é um acto contínuo e esse vem de dentro. Apenas consegue ser feliz quem encontra felicidade dentro de si.

Para terminar esta minha exposição que já se encontra longa. Na cadeira de Deontologia do Urbanismo, nós tínhamos de definir a nossa perspectiva do mundo, naquele caso relacionado com o Urbanismo. Basicamente tínhamos de escolher se tínhamos uma visão antropocêntrica ou ecocêntrica. Como é de calcular todos nos definiamos como ecocêntricos porque o urbanismo não deve ter só em conta o ser humano. Todavia, tenho cada vez mais dúvidas que esta concepção seja realmente a que as pessoas na sua generalidade mais acham acertada. Aliás, mesmo dentro da concepção antropocêntrica deve existir para muitas pessoas uma grande hierarquia de humanos.

Imagem retirada de http://www.ecodebate.com.br/2012/06/13/do-antropocentrismo-ao-mundo-ecocentrico-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/


5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns pela 100ª publicação! :) Que venham mais!
    É verdade que quando escrevemos somos quem mais aprende. Com as minhas publicações tenho aprendido coisas das quais antes não tinha o menor conhecimento.
    Um abraço,
    Mab

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  3. Parabéns pela 100ª publicação! Identifico-me muito com as tuas palavras. Até os meus amigos acham que eu estou um pouco louca, porque não como carne, porque me preocupo com o ambiente, porque faço os meus próprios detergentes, porque me preocupo com coisas que a maior parte das pessoas não se preocupa... Mas penso que o melhor é seguir a filosofia de Gandhi: "Sê a mudança que queres ver no mundo."
    Um abraço.

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    Respostas
    1. Obrigada pela visita :)
      Sem dúvida que o mais importante que temos de fazer para um mundo melhor, é sermos a mudança :) Uns numas coisas, outros noutras, acho que aos poucos todos podemos mudar qualquer coisa.

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