quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O jardim e o Outono

O meu namorado não é tão preocupado com as questões ambientais como eu sou. De facto, ele até implica um bocado comigo. Bem, obviamente que aquela parte da reciclagem, de preferir alimentos de origem portuguesa, não desperdiçar alimentos e outras coisas, ele concorda e faz. Ele até prefere andar a pé ou de transportes públicos que de automóvel, logo nem me posso queixar muito. E aceitou, mesmo que a contra-gosto as fraldas reutilizáveis. Se calhar, até é bem preocupado, tendo em conta a generalidade das pessoas que eu conheço.

Mas tudo o que entra em coisas como querer usar produtos de higiene ou de limpeza com menos tóxicos, guardar embalagens a pensar que as vou reutilizar (sem ter qualquer ideia como) ou querer usar lenços e guardanapos de pano (hei-de falar disto numa postagem futura), separar o lixo que as pessoas misturam na loja ou apanhar lixo do chão, ele já acha demais.

Mas no fundo não sei quem contribui mais para o bem-estar do nosso planeta, se eu, se ele. É verdade que eu tento diminuir as emissões de dióxido de carbono, mas cá em casa é ele que contribui grandemente para o aumento de oxigénio. Já que é ele que trata do nosso jardim, o nosso jardim basicamente são um conjunto de canteiros no quintal. E da horta, essa parte é repartida com o meu pai.

Estes canteiros, muitos ainda são do tempo do meu avô. O meu avô tinha sempre os canteiros muito arranjados, afinal ele foi jardineiro dos jardins de Belém. Mas depois dele morrer, o meu pai nunca mais os teve muito bonitos. O meu pai gosta de flores, planta-as e rega-as, mas não tem muita paciência para a manutenção. Por isso, desde que eu e o meu namorado viemos viver cá para casa e ele começou a tomar conta do jardim, as flores estão muito mais bonitas, o espaço bem mais agradável, os bicharocos muito mais felizes, nomeadamente as abelhas. A beleza das flores enche-nos o espírito.

O momento áureo é claro, o renascer na Primavera, primeiro umas flores, depois outras. Viver perto da natureza faz-nos preparar melhor as estações. E estas quando se tem um quintal mudam-nos os hábitos. Por exemplo, muita gente não entende porque no Verão jantamos sempre mais tarde que no Inverno. A questão é simples, no Inverno quando se chega do trabalho é noite, no Verão é dia.

Normalmente, no Verão, o meu namorado quase todos os dias trata do jardim, ora umas coisas, ora outras. Vivemos muito mais o exterior. Mas agora ele chega a casa já de noite, não dá para fazer nada, ao fim-de-semana se estiver a chover também não dá. O Outuno e o Inverno com algumas condicionantes são épocas de preparar o jardim para o renascer que virá mais tarde. Tarefas como apanhar folhas, revolver a terra, comprar novos bolbos, podar roseiras, etc. Para na Primavera tudo nascer com mais harmonia.

Às vezes, não pensamos nisso, mas acho que também o devíamos fazer a nível pessoal, o Outono devia ser um tempo de pensamento e reflexão sobre nós mesmos. Mas para reflectir é preciso ter tempo, nem todos o temos e nem todos o queremos ter.

E assim, aqui no quintal agora vão cair as folhas, as flores vão morrendo aos poucos, a terra vai ficar molhada, a chuva trará nutrientes importantes, as ervas se o Sol aparecer vão crescer. Todos os dias, todos os anos é assim, há imenso tempo.

Para travar o crescimento de ervas sem fim nos canteiros, o meu namorado está a cobri-los com casca de pinheiro que trouxemos da terra dele. Adoro ver a casca do pinheiro, mais uma vez a natureza fornece tudo o que é necessário. Com o tempo, a casca vai-se degradando e integra-se no solo.

O problema desta tarefa é que ainda deverá demorar bastante a estar concluída. Ele agora chega sempre a casa de noite, é preciso esperar que a metereologia permita fazer alguma coisa aos fim-de-semana. Mas é isto que é a agricultura e a jardinagem são um misto de persistência, paciência e um ciclo interminável. Às vezes, acho que me falta a paciência, mas acho que as actividades ligadas à terra e aos animais nos fazem entender melhor o ciclo das coisas, os tempos essenciais. No fundo, acho que este é o verdadeiro mundo, onde se nasce, cresce e morre e tudo se transforma. Um mundo muito mais verdadeiro e perto da essência humana do que o mundo inventado do glamour e das coisas supérfluas que criámos para preencherem o nosso quotidiano. Não sei bem porquê, mas ao escrever isto lembrei-me de um dos meus livros preferidos, A Quinta dos Animais (Animal Farm).

Aqui ficam algumas imagens do nosso jardim, fotografias já tiradas em Outubro, depois das primeiras chuvas.



A alfazema
Imagem própria

A casca de pinheiro com os cravos, as rosas, a alfazema e a framboesa
Imagem própria

São rosas... Rosas em Outubro?
Imagem própria
 
Restos marítimos, uma âncora e um antigo pote da pesca do polvo, usado agora como vaso
Imagem própria

Mais rosas... vê-se também o sistema de rega gota a gota com o objectivo de minimizar o crescimento de erva nos caminhos, bem como o desperdício de água (neste últimos dias, a chuva encarrega-se da rega)
Imagem própria

Uma rosa matizada, esta foi comprada já assim, mas é comum nascerem algumas assim quando duas roseiras diferentes estão muito próximas
Imagem própria

A relva e o baloiço que foi aqui posto quando eu era pequena (reutilizando uma velha cadeira de autocarro), o meu bebé já tem um baloiço à espera dele
Imagem própria


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